sexta-feira, 21 de março de 2014

subúrbios




A dor é o útero por onde a minha carne sangra, é sobretudo o vício de escrever em lume aberto onde a rua se perde até à raiz.

Na escrita abro-me aos dias humedeço a noite e às vezes o escuro.


Luísa Demétrio Raposo


 
 
* foto de Paul Cava 2001

quinta-feira, 20 de março de 2014

do meu livro "al mojanda"



    "A carne, uma ilha, o sangue do outro lado nómada anaça nas margens desoladas. O corpo, cais reflectido e nele pernoitarei mais uma noite deixando-me cair. A essência da selva o odor inquietante na terra molhada onde o musgo é denso e forte e ouvem-se excitada as águas que albergam o mar em toda a órbita do sal."
Em poesia ou em prosa um pénis é somente um prisioneiro que se cobre de lume.
Em poesia ou em prosa na vulva cresce a ereção de uma mulher sábia.

ldr

terça-feira, 18 de março de 2014

III


Escrever tornou-se um acto felino.

 
 Arde a tinta brava no interior na cal a riscada dá água a beber aos dedos mornos, que preparam quedas entre dois lençóis que miam. O ruído albergando-se nos inúmeros teoremas mentais que alcançam a orgia clarinada entre os acabramemos e a resistência térrea do desejo. A seiva prenha de vida.

Duas bocas um único labirinto; no fora para dentro; o angulo escuro amaga.

Perscruto aberto. Intacto o fogo onde a pele salga o desassossego voo.

 Resvalam os nervos curvilíneos incorporados nos socalcos. A boca acorda a outra boca e apalpam-se nas paredes os segredos que gemem e apalpam a ansiedade desabrochando no sexo que lhe mete o fogo indefinidamente no enroscar das línguas presas pelo cio, puxadas pelo tesão que rasga e gira ciclicamente em espiral.
 
in " al mojanda"


Luísa Demétrio Raposo

sexta-feira, 14 de março de 2014

II


Toda a escrita é sexo, o orgasmo transparece nas palavras. Em cada leito, um outro leitor, um outro sexo fodendo todos limites em orgíacas interpretações.
Os livros não passa de ejaculações na infinidade das leituras húmidas e que precipitam mergulhos e saltos que enlouquecem nas suas passagens,
e onde as imagens devoram todos o becos e onde todos os desenfreados tinteiros carnificam a boca e a
fodem.
Não existe Deus sem tesão nem orgasmo sem degolar a carne e todos os suspiros de uma fronteira secreta, pulsando em brasa e atesando o casulo em cada batimento forte.
Fora disto, tudo o resto é sonambulismo ou uma merda.

Luísa Demétrio Raposo
*a propósito do dia da poesia, hoje, 14 de Março de 2014

quinta-feira, 13 de março de 2014

I

O corpo é o instrumento encerrado na palavra. Nas deslumbradas estações á beira cio onde o sexo, o meu grande sonhador existe


 Luisa Demétrio Raposo

segunda-feira, 10 de março de 2014

*

A pele é um sexo onde os órgãos crescem e as rotações diluem a silhueta secretamente.
 
 
ldr
 
 
* obra de Lucien Freud


o corpo salmodia o silêncio o latido o horto a acrópole que se curva na palavra que aboca o entregar do sussurro à noite que nos apresenta os pormenores do escuro e obscuro.
o sexo o templo o elemento carnívoro que alastra de entre os limbos ângulos dos órgãos geométricos.
ldr