terça-feira, 29 de julho de 2014



estou só e exilada no meu sentir, só. inerte a violência emaranhada. o sentir mortífero. a destilação escarlate o monologo onde os meus partos anárquicos suturam atmosferas estuantes.
o terror irresoluto. desespero na massa que engole e reúne alcateias para em mim libertar tempestades.
escuto-me em circunvalação, a voz tecla. o hálito vertical.
da prática alimenta-se o esfíncter, linha-de-sal.
Luisa Demétrio Raposo


foto Joel Peter Witkin
A sílaba dízima
medra entre o escuro que dá e recebe sexo no charco onde pulsa o órgão-poema
o fogo abrasa-mo entre o orgasmo que pedala revolucionário e incestuoso
.

Luisa Demétrio Raposo
* pensamento do dia

segunda-feira, 28 de julho de 2014

pensamento do dia

na escrita não existe o paraíso e se existe é porque o texto não é poesia.
a poesia é um inferno interno. o poeta a droga que o alimenta. dentro, na leitura de cada leitor habita um carrasco. as leituras são a carnificina que a degolam, quanto mais um poeta é lido mais rapidamente morre e é esquecido.
a literatura é uma arte violenta, morre-se demasiado.



*pensamento do dia
 
Luisa Demétrio Raposo

segunda-feira, 21 de julho de 2014

"o arco deixa em ponto um vermelho solto e este grita-se pelo risco consanguíneo
a ribeira a haste rasga
os lábios o montem em rítmicas florações maduras a horizonte pelo espaço fluido onde a língua-borboleta volteja incessantemente plácida curta e afã
entra estaca a fissura um sítio demasiado sito a rotação convulsa em relevos que percorrem definitivos os da mão afogada onde o latex experimenta vivo o escuro e explode meta fora"

Luisa Demétrio Raposo


in Ammaia


[ela]
 no ópio que prolifera entre áridos ares e eriçadas os corpos crus rasgam-se em massas. faz-se a separação dentro do céu denso; sangue e lugares, entre os genitais se unificam para despedaçarem-se em violentos lumes encharcando os órgãos vivos em químicos que se devoram completos e duros até ao núcleo, na respiração que ardentemente brota dum cume inchado da carne.

Luisa Demétrio Raposo
O granito, afogou-se nos estilhaços, nos olhos descalços, nas cavidades paradas do meu rosto, no enclave de um infinito desgosto, na morte, aquela que eu nunca falo à noite, mas que me habita ferozmente grande.

do meu livro " Amala Ammaia"
Luisa Demétrio Raposo
(ele)
a sede é um seio em plena ferragem. o beber interminável, articulando o desembarcar, entre, entra para se consagrar hipnotizador, na ponta o som mergulha um espaço negro onde o pénis em cauda descalça o som incessantemente da metáfora em liberdade.

Luisa Demétrio Raposo

sábado, 19 de julho de 2014

"a brasa o espaço a visão e a sua execução atravessam a carne para alamar a escrita.
desapareço afogada no céu ortográfico. é inútil escrever sob o sexo e sob os arredores porque o engate semeia-se a estibordo a desaguar os fluidos-sémen;
a grande nau, o prepúcio lambe a caligrafia impedido o afastar as raízes e na boca queimando-me todas as direcções, um pénis cai do papel para submergir ruas inteiras.

a página sensível à miragem recente do poema, salvar-se-á quem nela se despenhe."

 

retirado do meu livro "Ammaia"
Luísa Demétrio Raposo
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quarta-feira, 16 de julho de 2014

o poeta não existe. a poesia que escreveu torna-se orgânica e partiu deixando um defunto sem dó nem piedade.
a alma foi no poema. o poeta fica, morto.
tudo o resto é ego, ilusão.

Luisa Demétrio Raposo
"pretexto na carne que está viva entre as sequências húmidas da moita. defecar perturba. um poema aceso simples iodo. o sexo desaperta o sangue. o esfíncter a larga e desintegra-se à sombra soerga. a pauta escarlate aquece a pele os veios que se refalsam de entre a intensa merda que sai tacteando tudo num abuso ânuo."
Luisa Demétrio Raposo
(...)Encontro-me na paisagem no caos a escrever um rasto de tinta e a interinidade do lado dextra de dentro da terra onde se erguem os fundos de um sítio e onde se atravessam nus todos os bichos molhados(...)
in "al mojanda"

Luisa Demétrio Raposo
(...)Entre a aberta sinto a mão húmida na caligrafia que arguta pela página e que no texto fia. Ardo. Escrevendo, no percurso mutilado da estratosfera dum sexo navegante. Junto ao círculo as labaredas animais exterminam e contaminam o fruto aumentando o seu volume em carne. O engate expande-se ao céu-da-boca. A água, ardina poça despenha-se entre as pernas sob o texto em liberdade.
Uma réplica cintila fértil(...)

do meu livro "al mojanda"Luisa Demétrio Raposo

terça-feira, 15 de julho de 2014

os meus livros e eu, indigentes.

desmorona-se a roda mineral sob o coitar
nómada a voz órbita o largo asfaltar húmido
abrasa-mo a carnagem na abaixo cheia a haste queimando-me as eiras e as fluidas que a boca encharca no esperma ingerido


quarta-feira, 9 de julho de 2014

sangue
molde grotesco o latejar dos becos a carne o pátio de entre brechas onde a noite rama avenidas e o prolongamento das hastes orgânicas gera tumultos
sangues
uma ficha irrigada que absorve e alimenta-se de todas as narrativas que esbracejam
a
poesia em regatos perifericamente amplos largos e que esboçam nos orifícios a corrente exilada a meio das artérias e que se defrontam em redemoinho...
s escoriados de um entalar

vaselina
o subsolo esculpe a instantaneidade o sangue em caos e é a funda por onde oscila o imbuído sexo de entre os milhares de devires à confluência vermelha dos ribeiros em intervenção

Luisa Demétrio Raposo
"à procura de um deus sobre o papel
 

a boca incindido sobre o sexo infindável e quente onde a língua escreve sombras"




Luisa Demétrio Raposo
amo poesia quando é carne e sangue sem condições escravas se lê inteiramente quente
 
verme literário
é um cotovelo carregado de ossos que me atulha os passos e que não permite à maresia pentelhos e nem à vulva a escrita amamentar

...
Luisa Demétrio Raposo
* pensamento do dia

segunda-feira, 7 de julho de 2014

pensamento do dia

“sinto-me uma ilha, rodeada de divisão. um maremoto onde se afundam os cais de todos os barcos que tentam atracar”
Luisa Demétrio Raposo

dia

“a sede mortalha nexo ao fogo povoando-me de terramotos. sol, a erecção o buraco assimétrico do corpo atrás da carne o dia entre o sangue flecha ânua, estrangula ou degola os poros onde afloram os sentidos e a escuridão viva que perfura a fossa, pulmão.”
Luisa Demétrio Raposo