quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

* in O Livro da Papoila

Largas as linhas e as esferas ardem, sangram, os pensamentos dentro do que eu sou imitando a agitação que ao cativeiro irrompe.
Eu, a grande paisagem. A lua. Um estado selvagem. Um terramoto libertando-se de tudo o que não é alma.



Luísa Demétrio Raposo

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A fuga não pode ser da escrita um resultado




Tenho a escrita e a escrita é o meu único corpo, um corpo pleno em alacridade, do escarlate ao ruir fundo que humedece e entorna palavras no mundo num recamar de paginas e que sem o saber, é o sepulcro onde no abaçanado eu sou, a rebeldia exposta à assimetria.

Luísa Demétrio Raposo

**foto. Joel-Peter Witkin





sábado, 28 de novembro de 2015

Jardim Separado

As palavras são ópio, o cavalo que consome a foz, a bigorna,
o assédio onde se amolda toda a minha farra, aquela guerreira
que salta das palavras e as oxida na excitação do sexo
numérico.
A minha liberdade é a orgia, a luxuria, a alma e ambas
caçam- me entre os seus ganchos orgásticos e por mais que
eu fuja o orgasmo é o cavaleiro que percorre todos os meus
matos.
A fantasia humana na imersão do erotismo, o desassossego,
a raiz e o ventre: a insónia placenta o meu abandono a toda
a gruta onde me vou fechando, um delírio híbrido onde se
desintegram e atraem os ambos vórtices.
Portas submersas, as carnes gorjeiam, redondas, curvilíneas,
serpenteiam abismos em cada um dos tesões. O som agarra
a flecha pelo ânus, o pénis rijo que quebra o voo e geme
dentro dele corrompendo- se na música que ferve, suando a
procura das bocas que se alimentam dos pedaços de som, a
árvores dos relâmpagos.

Luísa Demétrio Raposo


in O jardim Separado, 2013


foto * Jan Saudek






quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O Jardim Separado {em reedição

No jardim separado as carnes nos ulmos das seivas faíscam, correm contra os bosques, contra a febre monstruosa, a que lavra íntima, o foder, que referve o meu desnudo sentir. Os actos abismam-se de dentro do seu próprio cheio maiúsculo, as carnes trémulas o libertam à espera de palato, da língua, da boca atenta, sugam-se as carnes ora pelas costas ora pela ponta dos orifícios e lambem-se os alvoroços abertamente escuros na defloração das inúmeras bocas que um corpo feminino possui.


Possuem extinção, as curvas que afastam e deflagram fogo, alastrando-o para lá o limite que desequilibra a ordem viva do sangue, agarram-se vivas. Entre o gozo. Entre a flora ininterrupta das larvas lanhas em eclosão. A dor serpente percorre dentro da lagoa negra, estrangulando a carne, desabotoando todos os sítios nus, arrancados ao odor intimo, em declive onde o amargo se despenha e inclina, o mesmo amargo onde as vírgulas imergem na desfloração das inúmeras bocas que um corpo feminino possui.



Luísa Demétrio Raposo




quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Amai-a, plaga íntimo o orvalho e em toda a fissura purifica-se a retesa e a região engrandece-a violentamente para conceber à anarquia o aço.
Tudo explode em oblação e é rara a ânsia que só por excreção se atreve entre o rápido que se liberta e onde se abre cerúla a flor imaculada da qual sinto gémea irmandade e que em coroação extravasa réplicas em listrados laivos entre nénias cetinosas que ao rasgo exige ardência e o laquear súbito dos fluídos, a devora floresce.



Luísa Demétrio Raposo
in O Livro da Papoila

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

acerca do abominável dia mundial do escritor.

Um escritor não é uma vedeta, e escrita é outra coisa completamente diferente. O escritor não tem dias definidos, nem horas. Escrever é uma vocação. Um sacerdócio, e nada tem a ver com poses engalanadas nem com o nobiliárquico e de certas merdas de quem não sabe construir sombras, porque a escrita requer muito sacrifício e dedicação por inteiro, e para se ser escritor não basta só parecê-lo, tem que se ser, e isso é muito difícil, custa muito porque um verdadeiro escritor jamais se vende ao sistema, um sistema corrupto e medíocre que só se preocupa com o mercado (dinheiro vivo), um sistema merdoso onde as grandes editoras são o maior inimigo da arte da escrita, são elas as únicas responsáveis pela prostituição, sim porque não se pode chamar outra coisa num mundo que se fala de “literatura”.
Um escritor jamais teme outro escritor. E quando isso acontece é de ir ao vómito tanta mediocridade.
Há ainda que falar nos badalados prémios literários, que deveriam ser extintos do sistema. São uma aberração, prejudicam a literatura e só servem para criar “ninhos” e dar continuidade a séquitos “editoriais” e “caganeiras”.
Escrita é muito subjetiva e é impossível de dizer que este é melhor que aquele. É uma treta que só serve para alimentar elites, e o escritor não precisa dessas merdas, precisa é que acima de tudo que o respeitem. Infelizmente existe uma tremenda falta de respeito pela arte e por quem a exerce.



Luísa Demétrio Raposo
* 14 de Outubro 2015

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

liberação


 
 
 

 

 

Rende-se o que pela mão passa rápido a gritar, lá aonde deus vive endireitado e é interminável entre, e que pinga e enche os dedos acima uns dos outros, dedo a dedo, a fim de subtrair a água mamífera que desce onde sinto rórido o sexo e onde o tempo responde ao corpo veemente, e tal e qual como acontece dentro na terra, o amor liga-se ao sangue e à semente.


 

 

 

 
Luísa Demétrio Raposo


*foto Yung Cheng Lin

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

xxx

A pimenta é a concubina que aquece o sangue ao genital sultão. Eruca entre caricias na orla de Vénus. Cheira a desempenho sexual. Cheira ao sexo que fornica e decapita. Cheira frondosa e húmida entre a erecta submersa, devassa.

Luísa Demétrio Raposo

* foto retirada ao Google, desconheço autor.



terça-feira, 6 de outubro de 2015

a terra


 Deus a sombra, o astro que endurece a parte engelhada sob o traçado rente. Em tempo quente, o nascer que irmana cativo, o sémen, que do chão rasga histrião ao meio-dia. O rebento alarga-se, ao toque, quando acariciado em carne mutua. Não é uma união, é a devassa ardendo embravecida entre o domínio das interrogações que correspondem ao escancarar. A curva ofegante. A ambição de posse orla a tempestade que o cio intérmino semeia. Na respiração. O sangue em bosque a emergir, impresso e rumorejante, liga haste à seiva, inclinando o sexo faminto ao lumaréu, e do quase nada se despe quase tudo.
 
Luísa Demétrio Raposo
 
* foto retidada ao Google, desconheço autor

terça-feira, 29 de setembro de 2015

ao fundo do tronco,

"O mênstruo é a aparição do vermelho hemorragia que se empurra para a frente e sem receio de nenhuma derrota. Sangrar confunde o vime dos homens e o seu poder, que debruçado pondera o anunciar e largas cavalgadas ou em independência sangrar consigo - diz o esperma à mão entornada."


Luísa Demétrio Raposo


*foto, desconheço autor


 

a erecção primária


"Escrever com o olho virado pró sol e prós astros todos os outros escrevem. Na indigência escreve-se para um escuro infindável e quente a contorno da carne improvável.
 Eu escrevo explicitamente e com o sexo e de baixo para cima e dentro do olho e com escrita."
 

Luísa Demétrio Raposo

* retirado de "O Livro do Sexo Erecto"

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

oração.


Tudo o que é imenso pertencem-me em geometria. E é meu e abrasa em sequências rápidas, proporcional à fulminação que encerra, sendo o máximo responsável por todos os afetos em que eu desapareço.
Luísa Demétrio Raposo

conversa com deus


 
Tenho o sexo nas mãos e tenho-o na língua. É boca e tal como todas as bocas é canibal, mas não capturável e toda a imaginação sobre e sob, ascende e o eclodir far-se-á sempre. É rebeldia exposta à assimetria e existe em simultâneo ao excesso que por vezes coincide com os rituais. Aos espécimes que do sepulcro lambiscam palavras, façam o favor de retirar o patrão e o padrão do cimo dos meus textos.
Grata
 
Luísa Demétrio Raposo
 
* foto desconheço autor.
 


 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

ORAÇÃO IX




Quero o que não vem na pele, um par de sombras no auge engomadas no silêncio dos pentelhos onde o cio entra e ausculta em chão delirante, onde afloram os sentidos e a escuridão perfura fossa o orifício a contorno da leitura que desata da imagem, e fecha-o numa só cunhada na carne que alisa para lá do ânus onde o precipício sepulta nas catacumbas o que espanca e solta na carne encostando ao intestino o orgasmo, o único Deus que sempre aparece descalço, e é no seu aparecimento que eu desapareço e só se pode desaparecer após o antes que foi ejaculado.


Luísa Demétrio Raposo





*foto Mercurial Ramblings
 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

III

Em escrita é preciso explodir em decurso a caligrafia que narra pela página o órgão empunhado que emerge íngreme lá ao fundo, e tanto pode ser másculo ou feminil, dentro das mãos do escritor tudo é andrógeno. A escrita surge sempre do deserto, do coito entre as centenas de diálogos que guerreiam lado a lado a primitividade que ao respirar arranca vertigens aos genitais, e juntamente ao corpo escrevem.


Luísa Demétrio Raposo

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Ode à diplomacia


O que eu escrevo fode por inteiro o deus vosso. A escrita é um esperma contínuo e que nunca se me acabe esta copula e tudo é ejaculação e sobe ao alto vogante, se vai e vêm, na saliência vulnerável do bolço veemente da metáfora maiúscula, em queda violenta e que trás com ela a encastoada em galope, a lisa excitação, o estar. Quanto mais difusa é a viagem mais corta a navalha e o desejo obstinado em ser complexas e sinuosas iminências por conceber a pensante o foder, a desordem que se alterna consoante tudo o que se assombra a meio. Eu sou isto, completamente alheia à vossa exaustão e à vossa inercia, supero todos os escrivãs apenas em carne, ficando por isso difícil para vossas iminências encarnar-me e entendei que eu não vos pertenço, eu nunca vos pertencerei, quer aceitem ou não a minha passagem. Eu desapareço e vocês voltam ao nada.


Luísa Demétrio Raposo
* Fortios, Setembro 2015

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

VIII



Mijar.

Ímpio sulco mutilando o amplo sifilítico que anódina e busca-a pária ao desalinho e expande-se à estridência do que enforca ardina a poça, despenhando-se entre as pernas, alavanca o fluido subterrâneo equivalente a um alquebrado sémen.

Luísa Demétrio Raposo

VII



Aroma nos pentelhos arqueia bravo o negro e em toda a água que se lambuça aos apossados. Há o toque. Alonga-se em tradição a ponta escarlate em desenvolvimento próprio. O percurso ritma os quadris entre o lanço cru e viaja. O sacro é um cenário inclinado entre, em sítios explícitos explorando extenso o excesso exposto. O ânus forma entre as formas e forma-se lívido ajoelhando-se sobre o que se precipita. Há carne. O todo de todo o coartado entre o aperto fluido onde o tap...ume e a passagem investe toda a sua extensão. A ponta da pontaria é a sempre para o alto e do alto para a abundancia alta, e entre a boca ao alto e o sexo não existem intervalos, somente empurra e tudo ao alto imagina funduras entre e expele-se a travessia sobre excitação e deita-se a iris ao que fica estendido.

Luísa Demétrio Raposo

* 2014

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ammaia

As mãos rente ao órgão molhado. Olho grande, o fogo, pupila e ergue-se ao sítio. Entre os dedos a letra e o braço encobertos pelo escuro.
Escrevendo sem direção ou ornamentação
Escrever, sobretudo porque eu prescindo do séquito, mas jamais de sexo.




Luisa Demétrio Raposo
Agosto. 2015. Fortios

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Afogo-me todos os dias, todos os dias o mesmo suicídio, por vezes mais que uma vez. A morte, sempre ali, aqui, além, e a escrita comendo-me as noites, a carne, e o tempo.

ldr
Deveria incendiar a solidão, mas dispenso atenções e é completamente inútil em uso próprio renunciar-me. A escrita é um ser em fuga que pela aorta rasga o coração do bombear.


ldr
Escrevo palavras que despedaçam ou que mostram o sexo em texto. Algumas são genitais outras são a língua quando se arrasta.
Não obedeço a recintos nem a padrão algum. Eu tenho o meu próprio rasgo e tal e qual o ruído do sémen, um intenso ruir, o palavrão e pluviosa metáfora no eclodir de um grito durante a travessia náutica no som alagado dos orifícios em marcha. O interdito que desarruma entornando marginais os uivos a fim de gladiar em derrocada.
Ao fundo da página a curva estreita-se e dilata. Não é literatura, nem tão-somente alguma forma de escrita. Isto é simplesmente a arquitetura da prosa.



Luísa Demétrio Raposo
*Fortios, Agosto, 2015

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Amaia numero um

Os corpos em chamas movem astros para conceber luz. Do coração, outro cresce e entornam-se debaixo da carnagem. O vermelho atravessa-os. A floração acende, a vibração a abertura. O Sol exala e solta a Lua, o quadril forte e largo na mulher, um porto alegre. A terra alta. O ventre é uma fonte insaciável, lá onde os astros e os sexos ganham aura e águas, ao longo de intensos batimentos másculos parados e unidos ao longo de intensos batimentos feminis em oração, e se manifestam aos corações, quando o corpo uno ao universo se reproduz na magnificência em orgasmo.

Luísa Demétrio Raposo

* foto Egon Schiele

domingo, 2 de agosto de 2015

LP

«Trilho e esperma, à queima-roupa são anúncio da mesma coisa. Independentemente da geografia, da pulsação, da entranha, da mão mercenária que agarra e o desnuda erguendo-lhe o prepúcio fazendo-o deslizar entre os dedos; encontre a mão aperta-o desavergonhadamente entre a apreensão e a tentação fascinada que antecipa. Constelar embranquece os gestos que se movem arrastando cegamente todos os lugares rapidamente. A boca suga-o a seguir e de forma predatória e sem atender a permissões ou entregas. Sob o sair prestes a explodir, degrau a degrau, há um fenómeno que se unifica para despedaçar o encontro em químicos, as unidades da última respiração.
E o cume, completamente destruído pelo exibicionismo na boca larga, calçada pelas elevações másculas onde penso, um parapeito em chamas, e por onde a garganta vitrina o escorregadio deglutir das transparências, transviando a origem em tempestade aconchegante e, no gosto estala-se-me em absoluto.
 O relato rosto a baixo exaltado fica a gravar. O movimento depois de atravessar inúmeras vezes, o avesso, o sangue solto, o hálito e o pensamento ainda pertence à montanha sem punhos de cabelo. Um coldre arregaçado. E eu, dentro dele, a revolução onde um manómetro entornou extremamente húmida a sua área total entre o gatilho encarregado.»


Fortios 1.40 em.

Luísa Demétrio Raposo

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Alentejo. A brasa. Ir. Ser em cada flor, a aberta. Em cada uma delas, inquieta, o apelo, a inquietação. A intensidade é um flúmen assíduo, o fogo.
Rebenta-me a viagem, luze o dia e os abandonos descerrados, a aldeia, Fortios, à sombra da cal que em pulcritude no mês de Junho regressa para alamar as paredes.


Acendo o cigarro, rizomaticamente.

A abstração contínua, a fenda entre origens. Há um eixo penitente, e no silêncio transparece o tumulto, onde nascem os caminhos, onde nasce a minha fome permanente e jamais saciada, o horizonte que no Alentejo é tão famélicos como os meus anseios. Largos.

O cheiro silvo, as visões, onde incertos ressurgem os confins. Ao compasso das pernas robustas, é ela, a liberdade. O grito nórico da terra. A papoila. Que desabrocha, incendiando-me, em aberto desencadeando toda uma dileção avassaladora, mais devasta que o fulgor do sol quando grassa.

As papoilas escancaram-se e pouco a pouco o que escrevo escancara-se, por minha vontade. A excitação, o sangue vorás e capitoso dinamitando a palavra e a resplandecência e sobre elas ruge. E da lua ao céu. Um escarlate durativo e inumerável…




Luísa Demétrio Raposo





*excerto retirado do Livro das Papoilas, a editar.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Faz-me tremenda confusão o facto de a grande maioria das pessoas ter vergonha e algum pudor quando se fala de sexo, agem com mentalidade infantil, completamente. Eu não entendo como é possível e pergunto-me, o que é isto?
Têm pudor em falar da vulva do pénis, do pénis dentro da vulva, da boca que engole o pénis… existe pudor em falar do foder, há risos e sobretudo muita fome sexual escondida, a grande maioria não faz sexo verdadeiramente, expõe os órgãos um ao outro mas poucos a exploram verdadeiramente, e na rua não se fala; dá-se nomes totalmente ridículos aos órgãos sexuais, como pipi e pilinha, uma certa vez eu fui apresentada como uma pessoa que escrevia sobre pipis. Eu fiquei chocada.
Mas o que me choca ainda mais é o facto de não existir pudor em se falar em violência, em guerra, na miséria, na hipocrisia, que eu acho totalmente pornográfica.
Acho repugnante o facto de a grande maioria das pessoas à hora da refeição assistirem tv e aos respetivos noticiários e vão comendo a violência juntamente com a comida que engolem e assim a violência entra dentro do ser e torna-se comum, desbanaliza-se, afinal não é connosco, são os outros os que aparecem na tv e esquecem que todos estamos interligados, que o que acontece ao outro está relacionado diretamente connosco.
Comer é um acto sexual, o acto de comer é um ritual todo ele ligado ao sagrado, existem tribos que comem e praticam o acto sexual em simultâneo, e esses povos têm tanto para nos ensinar em termos de sociedade. Violência e alimentação jamais devem coincidir juntos, é antinatural. No entanto a grande maioria das pessoas o faz e sem nenhum pudor, sem questionar, e isto pessoalmente é para mim inconcebível de entender.
Pornografia é a fome que os povos causam uns aos outros, a escravidão, a castração, a guerra e a violência que se engole e que se permite, pornografia é a mentira e a hipocrisia. Pornografia é a desumanização, é a monstruosidade praticada pela sociedade consumista, pornográfico é o desrespeito pelo outro e e pela sua liberdade, pornográfico é o tráfico de seres humanos e a escravização do trabalho humano, praticado a olhos nus na nossa sociedade, pornografia é pensarmos que somos superiores aos outros só porque exibimos um canudo ou existe uma conta no banco em nosso nome recheada de dinheiro, pornográfico é o próprio dinheiro, pornográfico, pornográfico!
A Sexualidade é Divina, é uma religiosidade, é vida, é o que liga os deuses uns aos outros, é o que nos liga diretamente à Matriz. É a ligação direta ao Universo e à energia. O sexo é a única religião que existe, todas as outras e com o devido respeito não passam de políticas.
Sobretudo o que me choca ainda mais, o que considero sobretudo pornográfico e nojento é seres que se dizem ligados à arte, artistas que não o são, porque a alma artística sabe que na arte seja qual for não “existe” sem a ligação direta ao sexo; tudo é sexual na arte e na sua forma de expressão, tudo no mundo é sexual, nada existe fora do sexo.
Mas nesses pseudoartistas o que me choca profundamente é o seu pudor-castrador e a perseguição moral que praticam em relação aos artistas que falam e exercem o seu divino, acho abominável e só revela uma total e profunda ignorância não só em relação à arte mas em relação à vida no seu todo, uma falta de tudo, sobretudo revelam uma carência muito grande, falta-lhes o foder.

Luísa Demétrio Raposo
4 de Julho 2015
* pensamento do dia
Na insubordinação dos meus dias, estou só e exilada do meu sentir, só.
Só e obtusa, na violência emaranhada, o juízo dúbio, a destilação escarlate. O silêncio o monologo esconderijo onde os meus partos anárquicos suturam triângulos e saltos em atmosferas estuantes.
Estancada. Desarticulada. Mortiça, a cor confusa que plaina a gravitação.
Grito, encarniçando o sangue irresoluto. O desespero, a massa do silêncio, o ar que reúne alcateias na tentativa de libertar a tempestade...
.
Escuto-me em circunvalação. A voz tecla… o hálito vertical.
A profundidade corta à boca a respiração.
Estátua de sal.
Estarei morta e não dei por isso?





Luísa Demétrio Raposo
a escrita o grande frenesim o gérmen impulso
a vulva onde o assombro é a única poça de água
o êxtase onde são visíveis os lábios secretos do poema



ldr

terça-feira, 7 de julho de 2015

**

A boca alarga-se, voraz, quando acariciada em carne mutua. E arde em fúria entre o domínio das interrogações que correspondem ao escancarar. A curva ofegante. A ambição de posse orla a tempestade que o cio intérmino semeia. Na respiração. O sangue em bosque a emergir, impresso e rumorejante, liga haste à seiva, inclinando o sexo faminto ao lumaréu, e do quase nada se despe quase tudo...


Luísa Demétrio Raposo
*julho 2015

quarta-feira, 1 de julho de 2015

ao Jota, sempre...

Meus olhos se rasgam nus em ti.
Nu plácido destas páginas, o teu olhar é um
incêndio que procura arder nas minhas savanas!...


Luísa Demétrio Raposo

*do meu livro Nymphea

Da cópula



O caralho é a caligrafia que na página vincula os enliços
abstratos do sexo-escritor.

Apalpam-se os testículos e um caralho imenso atravessa as...
paredes para penetrar buracos atulhados de teias e os cardumes
de bocas que fodem malevolamente todos os pentelhos negros
que se distendem por um sexo teso.


É o cavalo refluxo que fulgura descentrado os quadris
amontoados do corpo, repulsando felpos dispostos de entre as
abóbadas do caralho que procria aleivosamente as gerações
futuras de humanoides de entre o dilúvio do sémen.


A minha vertigem, a enzima, o casco, a liana, onde as gigantes
limalhas antípodas arrancam os nós radiosos de todos os porquês.


O circular, anárquico, que pulsa e repulsa de entre os sexos que
afloram expansivos de entre os coitos.


No livro onde o corpo se esconde desterrando as escarpas do
medo, da fúria, do prazer, irregular que revela o medo. O cerco,
do falo, na existência, do encontrar, na hibernação, o pousio, dos
flávios destruídos nos minutos, no tempo que atravessa o ar e
retoma a imagem.


Sob cópula: o rugido, o ensaio, o fascículo, o escaparate, a
brochura interminável da escrita que estou prestes a atolar
descontinuamente nas pegadas do texto nómada, que segue
viagem pelas palacianas palavras onde imperiosamente se

constrói a minha intimidade.


**do meu livro Vermelho Al Mojanda

terça-feira, 30 de junho de 2015

O pretexto na carne que está entre sequências húmidas. Na moita, defecar perturba. Um poema aceso, simples iodo que no sexo desaperta o sangue. O esfíncter a larga e desintegra-se à sombra soerga. A pauta escarlate o veio que se refalsa de entre a intensa merda que sai tateando tudo num abuso ânuo.
É a rebeldia exposta à assimetria.


Luísa Demétrio Raposo
Reduzir o que eu escrevo somente ao erótico é muito redutor. Eu escrevo o orgânico. Toda a minha escrita é inteiramente orgânica.



ldr

domingo, 28 de junho de 2015

Coitada

Coito ardor, abismo, onde se cruzam os órgãos. Se desenrola,
rola, onde o fogo nunca derrama o leite.
És tu a alucinação na minha memória. O nosso epicentro.
Quilha no sentir. Que viva e quente, nos penetra o ser. Nos
come no vir. Potência infernal, na orla do nosso prazer. A cada...

pancada nossa uma vertigem se retira do teu astro cheio.
Almíscar. A argila táctil. E fica assim ateando a minha escrita
só pelo silêncio nu cercada. Põe a mão na noite e fica, não
porque o desejamos, mas porque Deus deu às partes sexuais
delírios e furos naturais. Húmidos. Orvalhados. Janelas de
força onde circula o odor de leite. Janelas opulentas, onde o
pau arde na flora, e onde a flora irrompe a haste desordenada.
Num poema...
Poesia é isto, um coito entre palavras, que se devoram entre
vozes, fôlegos e orifícios, superlativos uns aos outros e uns nos
outros...



Luísa Demétrio Raposo
in Respiração das Coisas/2010
Carta ao Pénis

Caro Pénis
O desejo é um enorme buraco selvagem.
E quando o desejo estala o silêncio, o cio imagina e aumenta-te....

Deverias saber como ninguém que o bosque húmido é uma
alucinação de memórias, lembrança volumosa e orbital, narinas
e ânus sob a fenda negra e que toda ela é aberta.
És alto em mim, entre o meu e o teu sangue eu estrangulo,
potente, doce, elementar, obscura...
Eu sou puro sexo e mato por fogo ou afogamento.
Sou carne curva no sobressalto vergado de funduras
frementes e delicadas.
O tesão serve-me e eu, sirvo-me dele tal como tu, é arte no
instinto.
Tu tocas onde eu te toco e os membros ambos abertos
fecham-se em carne profunda...
Até breve,
Sempre tua,
Vulva

Luísa Demétrio Raposo

in Respiração das Coisas/2010

quinta-feira, 25 de junho de 2015

a hora da papoila


 

 

Na racha o perpendicular, líquen, a segregação dos ciclos clandestinos da natureza. A fuga é a falésia, um miradouro, avalanche que se dilata procurando alinhamentos fundos na tempestade corporal do enxofre alarme que um sexo incendiado produz.

Então;

O sangue rasga-se-me. E o menstruar sobre o corpo fel cabalista. A margem incha-se-me no troço, na sombra líquida e na palavra permanece. Da vagina brota-se-me a tinta fresca a insónia de um deserto pequeníssimo que cospe o desabrochar tecido em gotas, a recordação viva da vida para que eu possa sobreviver a séculos e séculos de estrondos submersos e persistentes fogos.


 

 

Luísa Demétrio Raposo
 
 
 
 
 

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Eu gostaria que tudo o que amo o fosse simples, e simples gostaria eu de ser também.
Sou água ardente onde há regos desabridos em excessos. Há neles quebranto e furores e a inocência que avassala deleite dum. Há em mim vida e há a semente que se instala e que rompe na carne o imortal que cresce nardo e depois de cativo ao alegrete, colhe-se na certeza de um atrevimento. Há a ponta das águas, o esperma que se atira e avança em detrimento do quem o lê na sobranceira. Há coitos...
e há os coutos. Planícies rodeadas de curvaturas e regaços que se vêm em posições diferentes, contra, no movimento dentro da sonância vazada em fiada. Há palavras que a minha boca não consegue pronunciar, mas que separam as coxas muito idênticas à delinquência que alarga com escrita a semelhança entre as virilhas empolgantes e absolutas.
Eu sou e me quero sem ambições brutais, absolutamente fiel ao que rebenta do meu sexo.




Luísa Demétrio Raposo
* 24 de Junho 2015

terça-feira, 23 de junho de 2015


Escrever ou incendiar é uma antiga fome é uma antiga sede, vem de dentro de mim, veio-me das origens. Não sou moral nem imoral, eu sou marginal, entre o bem e o mal, entre o ir para o inferno e o ir para o céu, eu escolho a escrita genital.


Luísa Demétrio Raposo
 

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Há um abalo vivo que ao lado no bolso arde em fúria a saliência resoluta por onde erógeno o pensar avança, arreganhando-se ao gume e procurando a gritaria que leitura e de onde pende carnudo o fruto apaziguador, todo um sangue em prumo reto, que devasso, reúne e engole alcateias para em mim libertar nómadas tempestades.


Luísa Demétrio Raposo
Um corpo não precisa de dietas, precisa de amor de tesão e de expressar toda a sua essência, ser.


ldr
A boca em movimento estala, ucha e rebenta a pressa da outra. Os lábios trinam, saltam e desmaiam, intempestivamente. A língua contra a língua, feroz, prenha de águas ágeis desafiando toda uma liberdade que nada respeita e tudo fermenta. E estoiram-se as bocas em cada perpasso; o alamar de um céu jamais saciado, e quanto mais ágil é a sede mais corresponde o destino à forma agressiva e violenta do desejo.


Luísa Demétrio Raposo
 
**Egon Schiele
duas coisas que um artista não tem definidas; a idade cronológica e o sexo.



ldr

segunda-feira, 1 de junho de 2015

O sémen é uma estação à beira cio onde o sexo o meu grande sonhador existe; um absciso animal que no escuro enche revolucionário o sentir sobre o execrado, ao detonar a caligrafia, narra pela página o órgão empunhado que emerge íngreme ao arreigado, e tanto pode ser másculo ou feminil, porque dentro às mãos tudo é andrógeno, em centenas de diálogos que guerreiam lado a lado a primitividade das palavras que ao respirar arrancam vertigens dos genitais.

Luísa Demétrio Raposo



*Egon Schiele

sábado, 30 de maio de 2015

O livro é um genital onde se morre demasiado e desaparecem clandestinas as mãos que nele submergem. E é assim a literatura. Grande e ousada, tal como eu sou e me quero sem ambições brutais, mas fiel ao que rebenta e ao que me entrego despreocupadamente e tal como acontece em natureza, sem qualquer preconceito abro a minha semente ao amor e seja ela o que for, desejo ou apenas um dedo pastor…

Luísa Demétrio Raposo
Clitóris, a grande nau o prepúcio lambe aos destroços e a boca queima em direções paralelas à fuselagem.
Estrangula ou degola a escuridão, a sombra dum arco altissonante e labiríntico que esculpe do largar a medida de entre duras arestas que desmata cego, provocando em tudo o órfico a soma de dois orifícios num único arquipélago.


Luísa Demétrio Raposo
A ira do sol ao meio-dia sangra-me na cara robusta. A papoila de encontre a palavra desabrocha, incendeia, confunde, perturba desencadeando toda uma dileção avassaladora, mais devasta que o fulgor do sol quando grassa.
O escuro do olho o expandir absorve ao sangue capitoso, e dinamita a euforia das mãos que se estiram para erguer a duração e sobre elas, em cada uma delas a fúria acesa dentro da exaltação erode.
O escarlate durativo e inumerável, a inteligência de um fogo que tanto de dia como de noite está sempre na parte de fronte e de dentro para fora. Em toda ela, um exalçamento, e esse exalçamento é a distância rasgada à menstruação entre um fundo concubinário onde o pensar sangra e de forma brutal pelo meio das ancas, entre as coisas, o mundo e de onde e desde menina, sangro milhares de milhões de papoilas.

 

Luísa Demétrio Raposo

quinta-feira, 28 de maio de 2015

O sexo é o único deus que me aparece descalço e é no seu aparecimento que eu desapareço e só se pode desaparecer após o antes que foi ejaculado.




LDR
Com escrita, a boca não consegue pronunciar o que separa entre as coxas, a vulva que as pregas solta ao que no escuro tranca e acescência interna destrava, um corredor ao de leite que ao largo, a testa.
O seio na mão que o despe para corresponder ao que foge clandestino do encalço ao regaço. O lodo entoa até às mangas o que passa rápido pela mão a gritar entre e que pinga e enche os dedos, acima uns dos outros, dedo a dedo afim de gladiar a água mamífera que desce do poial e amputa o equilíbrio ás ondas.



Luísa Demétrio Raposo

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Do pentelho raramente se venera a cor e no entanto é-me a mais inteira.
Pigmento d`alma onde se debruça um assomar e mais se escancara a esfolha porque quando o aroma poisa, a tinta desaparece.
Sérios pensamentos são forças tão vazes como a desperta de um desvaneio percetível na ira do pénis quando a meio da robusta nádega, sangra.


Luísa Demétrio Raposo

Nada cala a ansiedade do sexo. O êxtase que pulsa ao espiar, o escarlate que infla de era em era e de modo potente. Há quem o ache horrendo. Há quem o ache bonito. Eu a ele pertenço e na mais ampla perspetiva me devoto e a dele abraso nua e intensamente.

Luísa Demétrio Raposo

quarta-feira, 13 de maio de 2015

 
É explicitamente sexual a essência na papoila e na mulher; a boca, uma direção desejada, a divindade ereta, o nome onde deito o genital e outras figuras maiores em partilhas interiores. E sinto-me, brava e infinita em pensamentos erógenos, de que é feito o hálito, à caça do som e aroma que das ribanceiras nasce enviesado, o devorar que atormenta as substâncias, molhando-me a frente, raspada e enxuta, porque na vulva há uma mistura possante de um perfume que consegue soltar o sexo que há tanto nas mulheres como nos homens.
 
Luísa Demétrio Raposo

quarta-feira, 18 de março de 2015


O dia a cada instante, um labirinto e o volume disto ocupa-me as horas; são os ácidos passos que a incandescente vulva vomita junto ao sítio, em escrita (diz-me o interno)

Ao fundo da página, Eu, vulcão escrevo sob o olhar que o ritmo admite no cadafalso. Arde o largo grosso da prosa. Do inferno o meu mundo não é outro: o branco em fúria estrado a içar. E quanto mais escrevo mais profunda é a minha semelhança. E o lume pela guarda alastra. Imagino tantas vezes poder deixar a carne e alimentar-me somente nas palavras enquanto larvas, riscar o sangue bravio e a meio coração inteiramente a desaguar, mãos e fogo.


Luísa Demétrio Raposo



sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

ANÚNCIO


"É urgente meter a língua na abertura onde se entalam poemas e permitir à brecha o escrever e o penetrar. É preciso transpor tudo, num devorar verbal. Desorbitar a literatura mundana demasiado casta e obscena. É necessário rasgar a acomodação e permitir à Poesia foder até que a carne escreva o que preenche um sexo entre as raízes húmidas numa qualquer fenda que amamente a escrita."


Luisa Demétrio Raposo
"O broche é oralmente escrito e é lambeado à sombra pelo ogro que me resgata ao coloquial. A bestialidade, silva a safra retém. O solferino sobrechega agora e eu, um abisso inferno, o momento em que o corpo morre e tudo explode. E, aqui e para sempre, sem noite, sem dia, dia sem noite, e sem um fim, mas tão-somente o que amplo às faíscas habita.
Imorredouro, tal como um início onde se vivem milha...
res de vidas em um, só devir. O averno que suplanta pressa e se forma púcaro vazio no poema do qual já se perdeu o implícito submergir nos temas escritos e nas palavras que arvoam no papel que, ora semimorto ou semivivo dita imparável a máquina que pensa e enclausura-me.
O coração relumbra, vianda, o tripulante revolucionário a opar seiva, execrado, o uivo sifilítico anódino buscante que aumenta no seu volume a carne. Acarminado range e expande-se, força ulular, a ardina poça que mainça e narra pela página a frase adentro."
Luísa Demétrio Raposo
in "A Ilha"
"Excitação, a vertigem que cerca a víscera da escrita, a força refocilada, o alimento brutal, o alarvado nu entre pentelhos no clitóris a serra emosta e intensa onde os extremos são quentes, uma arena, o gancho selvagem entre a somada onde o penetrar segue a distância na dissolução do tudo.
O caralho é a narrativa, e nele o que importa é a delonga metáfora e tudo o que se narra anteriormente ao seu fenecimento. Um caralho é forte e grosso cheio de colo desde o içar repleto de precipícios duros, largos e curvilíneos. A geometria no órgão é proporcional à alma que nele se cerra. Quando febrilmente fica exposto, sinto-o, entre a sombra absorta, paredes e força, entra, sai, para chegar ainda mais depressa. Ele é o todo que em mim se torna físico. O orgasmo é que nos principia e em nós acaba. Foda agremiação, a lousa. A cona um solo o coração batente que desaperta o texto e o imo poético se manifestava através de um circuito ilimitado, o todo, um creu insistente, onde habita a fornicação que se espelha e nos acompanha os passos um por um."
 


Luísa Demétrio Raposo
pequeno excerto do meu livro " A Ilha"

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

“Vaselina
o subsolo ir-se-ia na instantaneidade o rachar ao olho e devasta por onde oscila o imbuído súbito entre o cuspir de devires à confluência breve do ejacular narrativo alimentando o prolongamento em regato perifericamente orgânico ergue-se da sede mortalha nexo ao fogo povoando-me de terramotos
sol a erecção o buraco assimétrico do corpo atrás da carne o dia entre o sangue flecha ânua estrangula ou degola os poros onde afloram os sentidos e a escuridão viva que perf
ura a fossa
pulmão.”



Luisa Demétrio Raposo
"A sombra por toda a vulva deserta, árida leitura que o sentir voluta, o fecho no sangue por inteiro a erecção, os grãos de areia arquipélagos que desordenam sós, o duro nómada em decerto, aberto."


Luísa Demétrio Raposo

domingo, 25 de janeiro de 2015

a orfandade


O sangue oculto, caliginoso da palavra que oralmente é escrita e é lambeada à sombra pelo ogro que me resgata ao coloquial. A bestialidade, silva a safra retém. O solferino sobrechega agora e eu, um abisso inferno, o momento em que o corpo morre e tudo explode.

E serei, aqui e para sempre, sem noite, sem dia, dia sem noite, e sem um fim, mas tão-somente o que ampla e habita-me.

 Imorredouro, tal como um início onde se vive milhares de vidas em uma, só. O averno que suplanta pressa e se torna o lugar vazio do poema do qual já se perdeu há muito o endereço.

Submergir nos temas escritos e das palavras que arvoam no papel que, ora morto ou vivo dita imparável a máquina que pensa e enclausura-me.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

imo

"O coração relumbra, vianda, o tripulante revolucionário a opar seiva, execrado, o uivo sifilítico anódino buscante que aumenta no seu volume a carne. Acarminado range e expande-se, força ulular, a ardina poça que mainça e narra pela página a frase adentro."


Luisa Demétrio Raposo

sábado, 17 de janeiro de 2015

do meu livro AMMAIA





A vulva é um escrito de entre um deserto violento, um orifício bárbaro, o contorno safra, a carne improvável que renasce leituras e que a boca desmata na imagem, incidindo sobre o sexo infindável e quente onde a palavra lateja e escreve sombras até encontrar circunstantes. Fode-se, bebe-se

de entre eruditos pentelhos que atracam as seivas co) abertas, no lamber absorto ao lume que orbita no orvalho a meio das coxas.


A boca é toda uma serpente que no sexo se arrastra ora depressa, ámen, orando carpia a carne erecta, masturbando-se na saliva e ascendendo o rastro das águas obducto de hóstias ou de sémen. Na conflagração prossegue com o texto, na micção a narrativa é fraga, um acanhonear laranja ao encontrão e do pretérito arvoa o gemido letalmente, deixando-nos a paz.

Luísa Demétrio Raposo

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Ala mada



"O tremeluz a humidade da rua sobre, acende a inocência do soalho. Embate na boca. Arde pia de entre o sexo meio aberto meio penetrável; a exasperação nua ao fascínio eclode; sobre a pele, levanta voo, um pássaro e vagueia-se pelo travo a língua. Marulhares, às nuvens devem perturbar. Ousar rejeiras a cal à aberta que conheço. A vulva a liquefacção onde todos os pássaros húmidos pousam a deliquescência a boca e o poema existe em simultâneo languescer. O sentir naufraga. O cais. A lentidão sobre a transumância: escreverei. Fora de ti. O corpo ave: o grande interior, um excesso que desliza, por vezes sangra e coincide com o cretone aterrado. a embriaguez  é um desvio inacessível, e penso em nada desaguar…"

Luísa Demétrio Raposo




* a foto é retirada da net, desconheço autor