segunda-feira, 13 de julho de 2015

Alentejo. A brasa. Ir. Ser em cada flor, a aberta. Em cada uma delas, inquieta, o apelo, a inquietação. A intensidade é um flúmen assíduo, o fogo.
Rebenta-me a viagem, luze o dia e os abandonos descerrados, a aldeia, Fortios, à sombra da cal que em pulcritude no mês de Junho regressa para alamar as paredes.


Acendo o cigarro, rizomaticamente.

A abstração contínua, a fenda entre origens. Há um eixo penitente, e no silêncio transparece o tumulto, onde nascem os caminhos, onde nasce a minha fome permanente e jamais saciada, o horizonte que no Alentejo é tão famélicos como os meus anseios. Largos.

O cheiro silvo, as visões, onde incertos ressurgem os confins. Ao compasso das pernas robustas, é ela, a liberdade. O grito nórico da terra. A papoila. Que desabrocha, incendiando-me, em aberto desencadeando toda uma dileção avassaladora, mais devasta que o fulgor do sol quando grassa.

As papoilas escancaram-se e pouco a pouco o que escrevo escancara-se, por minha vontade. A excitação, o sangue vorás e capitoso dinamitando a palavra e a resplandecência e sobre elas ruge. E da lua ao céu. Um escarlate durativo e inumerável…




Luísa Demétrio Raposo





*excerto retirado do Livro das Papoilas, a editar.

Sem comentários: