quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ammaia

As mãos rente ao órgão molhado. Olho grande, o fogo, pupila e ergue-se ao sítio. Entre os dedos a letra e o braço encobertos pelo escuro.
Escrevendo sem direção ou ornamentação
Escrever, sobretudo porque eu prescindo do séquito, mas jamais de sexo.




Luisa Demétrio Raposo
Agosto. 2015. Fortios

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Afogo-me todos os dias, todos os dias o mesmo suicídio, por vezes mais que uma vez. A morte, sempre ali, aqui, além, e a escrita comendo-me as noites, a carne, e o tempo.

ldr
Deveria incendiar a solidão, mas dispenso atenções e é completamente inútil em uso próprio renunciar-me. A escrita é um ser em fuga que pela aorta rasga o coração do bombear.


ldr
Escrevo palavras que despedaçam ou que mostram o sexo em texto. Algumas são genitais outras são a língua quando se arrasta.
Não obedeço a recintos nem a padrão algum. Eu tenho o meu próprio rasgo e tal e qual o ruído do sémen, um intenso ruir, o palavrão e pluviosa metáfora no eclodir de um grito durante a travessia náutica no som alagado dos orifícios em marcha. O interdito que desarruma entornando marginais os uivos a fim de gladiar em derrocada.
Ao fundo da página a curva estreita-se e dilata. Não é literatura, nem tão-somente alguma forma de escrita. Isto é simplesmente a arquitetura da prosa.



Luísa Demétrio Raposo
*Fortios, Agosto, 2015

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Amaia numero um

Os corpos em chamas movem astros para conceber luz. Do coração, outro cresce e entornam-se debaixo da carnagem. O vermelho atravessa-os. A floração acende, a vibração a abertura. O Sol exala e solta a Lua, o quadril forte e largo na mulher, um porto alegre. A terra alta. O ventre é uma fonte insaciável, lá onde os astros e os sexos ganham aura e águas, ao longo de intensos batimentos másculos parados e unidos ao longo de intensos batimentos feminis em oração, e se manifestam aos corações, quando o corpo uno ao universo se reproduz na magnificência em orgasmo.

Luísa Demétrio Raposo

* foto Egon Schiele

domingo, 2 de agosto de 2015

LP

«Trilho e esperma, à queima-roupa são anúncio da mesma coisa. Independentemente da geografia, da pulsação, da entranha, da mão mercenária que agarra e o desnuda erguendo-lhe o prepúcio fazendo-o deslizar entre os dedos; encontre a mão aperta-o desavergonhadamente entre a apreensão e a tentação fascinada que antecipa. Constelar embranquece os gestos que se movem arrastando cegamente todos os lugares rapidamente. A boca suga-o a seguir e de forma predatória e sem atender a permissões ou entregas. Sob o sair prestes a explodir, degrau a degrau, há um fenómeno que se unifica para despedaçar o encontro em químicos, as unidades da última respiração.
E o cume, completamente destruído pelo exibicionismo na boca larga, calçada pelas elevações másculas onde penso, um parapeito em chamas, e por onde a garganta vitrina o escorregadio deglutir das transparências, transviando a origem em tempestade aconchegante e, no gosto estala-se-me em absoluto.
 O relato rosto a baixo exaltado fica a gravar. O movimento depois de atravessar inúmeras vezes, o avesso, o sangue solto, o hálito e o pensamento ainda pertence à montanha sem punhos de cabelo. Um coldre arregaçado. E eu, dentro dele, a revolução onde um manómetro entornou extremamente húmida a sua área total entre o gatilho encarregado.»


Fortios 1.40 em.

Luísa Demétrio Raposo