sábado, 28 de novembro de 2015

Jardim Separado

As palavras são ópio, o cavalo que consome a foz, a bigorna,
o assédio onde se amolda toda a minha farra, aquela guerreira
que salta das palavras e as oxida na excitação do sexo
numérico.
A minha liberdade é a orgia, a luxuria, a alma e ambas
caçam- me entre os seus ganchos orgásticos e por mais que
eu fuja o orgasmo é o cavaleiro que percorre todos os meus
matos.
A fantasia humana na imersão do erotismo, o desassossego,
a raiz e o ventre: a insónia placenta o meu abandono a toda
a gruta onde me vou fechando, um delírio híbrido onde se
desintegram e atraem os ambos vórtices.
Portas submersas, as carnes gorjeiam, redondas, curvilíneas,
serpenteiam abismos em cada um dos tesões. O som agarra
a flecha pelo ânus, o pénis rijo que quebra o voo e geme
dentro dele corrompendo- se na música que ferve, suando a
procura das bocas que se alimentam dos pedaços de som, a
árvores dos relâmpagos.

Luísa Demétrio Raposo


in O jardim Separado, 2013


foto * Jan Saudek






quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O Jardim Separado {em reedição

No jardim separado as carnes nos ulmos das seivas faíscam, correm contra os bosques, contra a febre monstruosa, a que lavra íntima, o foder, que referve o meu desnudo sentir. Os actos abismam-se de dentro do seu próprio cheio maiúsculo, as carnes trémulas o libertam à espera de palato, da língua, da boca atenta, sugam-se as carnes ora pelas costas ora pela ponta dos orifícios e lambem-se os alvoroços abertamente escuros na defloração das inúmeras bocas que um corpo feminino possui.


Possuem extinção, as curvas que afastam e deflagram fogo, alastrando-o para lá o limite que desequilibra a ordem viva do sangue, agarram-se vivas. Entre o gozo. Entre a flora ininterrupta das larvas lanhas em eclosão. A dor serpente percorre dentro da lagoa negra, estrangulando a carne, desabotoando todos os sítios nus, arrancados ao odor intimo, em declive onde o amargo se despenha e inclina, o mesmo amargo onde as vírgulas imergem na desfloração das inúmeras bocas que um corpo feminino possui.



Luísa Demétrio Raposo




quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Amai-a, plaga íntimo o orvalho e em toda a fissura purifica-se a retesa e a região engrandece-a violentamente para conceber à anarquia o aço.
Tudo explode em oblação e é rara a ânsia que só por excreção se atreve entre o rápido que se liberta e onde se abre cerúla a flor imaculada da qual sinto gémea irmandade e que em coroação extravasa réplicas em listrados laivos entre nénias cetinosas que ao rasgo exige ardência e o laquear súbito dos fluídos, a devora floresce.



Luísa Demétrio Raposo
in O Livro da Papoila