segunda-feira, 13 de julho de 2015

Alentejo. A brasa. Ir. Ser em cada flor, a aberta. Em cada uma delas, inquieta, o apelo, a inquietação. A intensidade é um flúmen assíduo, o fogo.
Rebenta-me a viagem, luze o dia e os abandonos descerrados, a aldeia, Fortios, à sombra da cal que em pulcritude no mês de Junho regressa para alamar as paredes.


Acendo o cigarro, rizomaticamente.

A abstração contínua, a fenda entre origens. Há um eixo penitente, e no silêncio transparece o tumulto, onde nascem os caminhos, onde nasce a minha fome permanente e jamais saciada, o horizonte que no Alentejo é tão famélicos como os meus anseios. Largos.

O cheiro silvo, as visões, onde incertos ressurgem os confins. Ao compasso das pernas robustas, é ela, a liberdade. O grito nórico da terra. A papoila. Que desabrocha, incendiando-me, em aberto desencadeando toda uma dileção avassaladora, mais devasta que o fulgor do sol quando grassa.

As papoilas escancaram-se e pouco a pouco o que escrevo escancara-se, por minha vontade. A excitação, o sangue vorás e capitoso dinamitando a palavra e a resplandecência e sobre elas ruge. E da lua ao céu. Um escarlate durativo e inumerável…




Luísa Demétrio Raposo





*excerto retirado do Livro das Papoilas, a editar.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Faz-me tremenda confusão o facto de a grande maioria das pessoas ter vergonha e algum pudor quando se fala de sexo, agem com mentalidade infantil, completamente. Eu não entendo como é possível e pergunto-me, o que é isto?
Têm pudor em falar da vulva do pénis, do pénis dentro da vulva, da boca que engole o pénis… existe pudor em falar do foder, há risos e sobretudo muita fome sexual escondida, a grande maioria não faz sexo verdadeiramente, expõe os órgãos um ao outro mas poucos a exploram verdadeiramente, e na rua não se fala; dá-se nomes totalmente ridículos aos órgãos sexuais, como pipi e pilinha, uma certa vez eu fui apresentada como uma pessoa que escrevia sobre pipis. Eu fiquei chocada.
Mas o que me choca ainda mais é o facto de não existir pudor em se falar em violência, em guerra, na miséria, na hipocrisia, que eu acho totalmente pornográfica.
Acho repugnante o facto de a grande maioria das pessoas à hora da refeição assistirem tv e aos respetivos noticiários e vão comendo a violência juntamente com a comida que engolem e assim a violência entra dentro do ser e torna-se comum, desbanaliza-se, afinal não é connosco, são os outros os que aparecem na tv e esquecem que todos estamos interligados, que o que acontece ao outro está relacionado diretamente connosco.
Comer é um acto sexual, o acto de comer é um ritual todo ele ligado ao sagrado, existem tribos que comem e praticam o acto sexual em simultâneo, e esses povos têm tanto para nos ensinar em termos de sociedade. Violência e alimentação jamais devem coincidir juntos, é antinatural. No entanto a grande maioria das pessoas o faz e sem nenhum pudor, sem questionar, e isto pessoalmente é para mim inconcebível de entender.
Pornografia é a fome que os povos causam uns aos outros, a escravidão, a castração, a guerra e a violência que se engole e que se permite, pornografia é a mentira e a hipocrisia. Pornografia é a desumanização, é a monstruosidade praticada pela sociedade consumista, pornográfico é o desrespeito pelo outro e e pela sua liberdade, pornográfico é o tráfico de seres humanos e a escravização do trabalho humano, praticado a olhos nus na nossa sociedade, pornografia é pensarmos que somos superiores aos outros só porque exibimos um canudo ou existe uma conta no banco em nosso nome recheada de dinheiro, pornográfico é o próprio dinheiro, pornográfico, pornográfico!
A Sexualidade é Divina, é uma religiosidade, é vida, é o que liga os deuses uns aos outros, é o que nos liga diretamente à Matriz. É a ligação direta ao Universo e à energia. O sexo é a única religião que existe, todas as outras e com o devido respeito não passam de políticas.
Sobretudo o que me choca ainda mais, o que considero sobretudo pornográfico e nojento é seres que se dizem ligados à arte, artistas que não o são, porque a alma artística sabe que na arte seja qual for não “existe” sem a ligação direta ao sexo; tudo é sexual na arte e na sua forma de expressão, tudo no mundo é sexual, nada existe fora do sexo.
Mas nesses pseudoartistas o que me choca profundamente é o seu pudor-castrador e a perseguição moral que praticam em relação aos artistas que falam e exercem o seu divino, acho abominável e só revela uma total e profunda ignorância não só em relação à arte mas em relação à vida no seu todo, uma falta de tudo, sobretudo revelam uma carência muito grande, falta-lhes o foder.

Luísa Demétrio Raposo
4 de Julho 2015
* pensamento do dia
Na insubordinação dos meus dias, estou só e exilada do meu sentir, só.
Só e obtusa, na violência emaranhada, o juízo dúbio, a destilação escarlate. O silêncio o monologo esconderijo onde os meus partos anárquicos suturam triângulos e saltos em atmosferas estuantes.
Estancada. Desarticulada. Mortiça, a cor confusa que plaina a gravitação.
Grito, encarniçando o sangue irresoluto. O desespero, a massa do silêncio, o ar que reúne alcateias na tentativa de libertar a tempestade...
.
Escuto-me em circunvalação. A voz tecla… o hálito vertical.
A profundidade corta à boca a respiração.
Estátua de sal.
Estarei morta e não dei por isso?





Luísa Demétrio Raposo
a escrita o grande frenesim o gérmen impulso
a vulva onde o assombro é a única poça de água
o êxtase onde são visíveis os lábios secretos do poema



ldr

terça-feira, 7 de julho de 2015

**

A boca alarga-se, voraz, quando acariciada em carne mutua. E arde em fúria entre o domínio das interrogações que correspondem ao escancarar. A curva ofegante. A ambição de posse orla a tempestade que o cio intérmino semeia. Na respiração. O sangue em bosque a emergir, impresso e rumorejante, liga haste à seiva, inclinando o sexo faminto ao lumaréu, e do quase nada se despe quase tudo...


Luísa Demétrio Raposo
*julho 2015

quarta-feira, 1 de julho de 2015

ao Jota, sempre...

Meus olhos se rasgam nus em ti.
Nu plácido destas páginas, o teu olhar é um
incêndio que procura arder nas minhas savanas!...


Luísa Demétrio Raposo

*do meu livro Nymphea

Da cópula



O caralho é a caligrafia que na página vincula os enliços
abstratos do sexo-escritor.

Apalpam-se os testículos e um caralho imenso atravessa as...
paredes para penetrar buracos atulhados de teias e os cardumes
de bocas que fodem malevolamente todos os pentelhos negros
que se distendem por um sexo teso.


É o cavalo refluxo que fulgura descentrado os quadris
amontoados do corpo, repulsando felpos dispostos de entre as
abóbadas do caralho que procria aleivosamente as gerações
futuras de humanoides de entre o dilúvio do sémen.


A minha vertigem, a enzima, o casco, a liana, onde as gigantes
limalhas antípodas arrancam os nós radiosos de todos os porquês.


O circular, anárquico, que pulsa e repulsa de entre os sexos que
afloram expansivos de entre os coitos.


No livro onde o corpo se esconde desterrando as escarpas do
medo, da fúria, do prazer, irregular que revela o medo. O cerco,
do falo, na existência, do encontrar, na hibernação, o pousio, dos
flávios destruídos nos minutos, no tempo que atravessa o ar e
retoma a imagem.


Sob cópula: o rugido, o ensaio, o fascículo, o escaparate, a
brochura interminável da escrita que estou prestes a atolar
descontinuamente nas pegadas do texto nómada, que segue
viagem pelas palacianas palavras onde imperiosamente se

constrói a minha intimidade.


**do meu livro Vermelho Al Mojanda