quinta-feira, 18 de março de 2021

 

Tenho uma secretária vermelha e canina onde me sento a escrever os poemas sentidos. As secretárias vermelhas e caninas são como todas as secretárias vermelhas e caninas fendem o fundo e fundam. E eu escrevo tudo sobre ela e embalo, e tal como acontece em todas as secretárias vermelhas e caninas, pedala-se muito melhor sem selim.

ldr




 

O enxofre amargo ensina às letras o soterrar impercetível. Acaroa-se. Imagina-se e lambe-se toda a explosão que detém o sémen acorrentado, mudo no interior do corpo que se masturba a cada debruço que respira e grulha. O prepúcio que a boca suga, as águas lambem e pela negra engolem tudo na revolta doada da língua em chama lenta, o repetir dos planos em rodapé. Ele geme. E sobre os lábios a pauta escarlate aquece a pele dos veios que se refalsam de entre a intensa chuva que sai tateando todo o dorso anima. A palavra húmida no desejo projeta-se, a terra, aquessa acende a necessidade estendida. Renascem lodos. O sexo desaperto o sangue. Desintegra-se a braguilha, a imagem ergue o pénis que repousa à sombra soerga. O escorregar alarga o corredor e da boca onde o sal anda sobre os gemidos, sugam-se paridas que um céu contrabandeia de entre o precipício recortado do lábio ancorado ao porto que tropeça nos enormes pentelhos.


ldr

 A escrita inflama intensa pelos corredores da prosa. O fel em brasa com a boca que se transmuta em força a meio do escuro. A causa. Dissipar sangue com destruição e vocalizar as formas iniciais da atmosfera que representam a polémica e a desordem que segura a parede. Uma mancha ensanguentada articula-se até à roupa e pelo salto olha-me, atenta, pra naturalmente corresponder a todos os hábitos sexuais presos entre as costuras e o ferro. Aguardam-me apetites, a brutalidade que só a um corpo numeroso pertencem. Sobre a mesa os papeis à polpa dos dedos começam a deformar-se. Despindo-se, comendo as coisas todas acesas. A carga erótica, a caligrafia erguida sobre a testa, a escrita contínua demasiado e larga. Um documento na sua originalidade, a sacralização, a passagem, fixa, preta. Feito e dito, a cavidade molhando-me. Pele e medo. A recitação. A cinza forte e curvada numa poça. Tocar-lhe.

Valerá a pena continuar?
ldr
*autorretrato, ensaio, Amata,
Casa da Mata, 2021 Fortios



segunda-feira, 15 de março de 2021

 


O chão da cozinha é a pátria dos meus dias de jejum devido à precária intenção que a cabeça guarda. Só penso em escrever merdas e uma merda é uma merda é uma merda. Há anos que não sentia esta merda tão junta e absoluta e quando se mete na mão na escrita é tempo de morrer e a morte tem estado sempre junto a mim entre o corpo que me separa, e quando ela abre a boca as pessoas à minha volta esbarram ao acaso e assim a medo eu vou perguntando os vossos nomes e perante isto, e agora, vêm vocês ler-me em descoberta. Porque é que escreves merdas? Para sair agora e de repente e correr até conseguir boiar e ficar fora de qualquer alcance afinal os olhos de quem nos lê são narizes que andam e sua ordem é interior e em terramoto e dão socos e murros capazes de matar a lepra e eu sou a porra que lhes bate nas costas e que os fareja como um animal e lhes suja o chão e as toalhas, sempre em volta e vós olham para os maus, digo, meus textos na procura de artes e letras e nada em cima da água. E és um dejeto, dizem-me gloriosos e isto acontece porque a morte e a merda também lhes esta na carne e na cabeça à foz dos braços e à boca do corpo. Porque somos todos filhos do mesmo inferno e por arrasto e pela urina, somos todos assassinos de livros de textos e de poetas cujo sepulcro acontece.

ldr
*ensaio ,autorretrato, Amata,
Març. 2021, Fortios, Casa da Mata.

  A avenida principal deveria estar em silêncio. Os dias não se dão. Fremem. No local de trabalho pedem-me cresça mais depressa a interior da blusa e se puder arranje uma mais larga é que o mundo entrou em colapso e eu que sempre tive pavor lacónico ao porta-bagagem e às batalhas disciplinadas e também não sei nadar, recebi a noticia, a partir de agora terei de ser mais acumulada e colocar menos barbatanas à entrada, e se o desespero começar a imiscuir-se desfocado, é colocar-lhe um gargalo e deixa-lo florir, já que todos necessitamos de nos salvar e a distância é um quase abandono seguro. E manter o corpo desdobrável dito ainda no papel afixado na porta, sem humidade em todos os degraus e com luz certa em todas as atenções e tudo sem ser misturado sobre a cabeça.


ldr

*ensaio, autorretrato, Amata,
Março, 2021, Casa da Mata,
Fortios, 

quinta-feira, 11 de março de 2021

 

   Eu, o teu assento, aquele que te mutila as mãos sobre o sexo. A feição peluda que a morte anula entre as costuras. A língua correspondente, a pele e o que se mistura por debaixo da força, aquele céu cor de fogo que grita sob a testa. Um cheio forte carregado de setenta centímetros ultrapassando os cinco da minha prova. E lá vens tu, aceso, coberto de baques importantes, e pões lá a mão, e encontras atento às tuas fúrias, um lugar que se parece com uma atmosfera, com pernas e cuja presença, apesar da tua dureza, diz de mim para mim; pensei nessa tua pressa, um mundo, e não sei onde mais irei esconder essa tua pele a direito e sem rugas.