segunda-feira, 15 de março de 2021

 


O chão da cozinha é a pátria dos meus dias de jejum devido à precária intenção que a cabeça guarda. Só penso em escrever merdas e uma merda é uma merda é uma merda. Há anos que não sentia esta merda tão junta e absoluta e quando se mete na mão na escrita é tempo de morrer e a morte tem estado sempre junto a mim entre o corpo que me separa, e quando ela abre a boca as pessoas à minha volta esbarram ao acaso e assim a medo eu vou perguntando os vossos nomes e perante isto, e agora, vêm vocês ler-me em descoberta. Porque é que escreves merdas? Para sair agora e de repente e correr até conseguir boiar e ficar fora de qualquer alcance afinal os olhos de quem nos lê são narizes que andam e sua ordem é interior e em terramoto e dão socos e murros capazes de matar a lepra e eu sou a porra que lhes bate nas costas e que os fareja como um animal e lhes suja o chão e as toalhas, sempre em volta e vós olham para os maus, digo, meus textos na procura de artes e letras e nada em cima da água. E és um dejeto, dizem-me gloriosos e isto acontece porque a morte e a merda também lhes esta na carne e na cabeça à foz dos braços e à boca do corpo. Porque somos todos filhos do mesmo inferno e por arrasto e pela urina, somos todos assassinos de livros de textos e de poetas cujo sepulcro acontece.

ldr
*ensaio ,autorretrato, Amata,
Març. 2021, Fortios, Casa da Mata.

Sem comentários: