Era uma vez um rastro, mergulhando, vivo e quente. Era uma
vez uma boca mulher na minha boca que entre o dedilhar ia comendo órbitas e
gemidos.
"Os grifos nus ardem,
aterrados e trémulos. O verbo é o barulho, no instante, em torno das palavras
que não dizemos mas que em pontos paralelos sugamos.
A carne defronte com a defronte carne em braçadas se
entrecruzam submarinas e eu renasço na tua boca, onde o mar se encurva e canta
rouco, devorando-me na escrita que desenho entre a minha respiração narrativa,
onde sinto o teu grande estuário e uma ponta acesa que me queima entre a boca e
a vagina em floração. O gosto amarga raiando entre as madeixas, luzindo. Luzia álgebras
nas lanhas lúbricas”
Era uma vez uma vez e mais outra que se enche de águas
quebradas e de um sangue quente que entra em mim, no grosso dos dedos, arduamente,
e se esconde rápido ininterruptamente, recto e curvo numa só linha transpira e
toca-me perdido na minha grande escrita que o devora, o imploro masturba-me, toca-me
uma e outra vez era um vez até que a boca sôfrega apareça entre a roupa extensa
e te desmanche em delírios brancos, por detrás das coxas em o lírios brancos que
entre as ancas espertas que apertam e se infundam nos entras e saís encarnados
onde a noite se exalta e a carne exposta neles se despe e veste num strip-tease
obsidiado. Soberbo o sangue que me ama no meu mundo cheio de águas e cheio de
regressos e onde delicadamente está deitada, indo o cio por todos os lados,
pródigo.
Luisa Demétrio Raposo
in Cassiopeia e o Jardim Separado
1 comentário:
"Os grifos nus ardem, aterrados e trémulos. O verbo é o barulho, no instante, em torno das palavras que não dizemos mas que em pontos paralelos sugamos....maravilhoso textos, querida..seu blog é de uma estética muito peculiar..e de uma profundidade intensa.....um beijo grande, fada.
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