quinta-feira, 18 de março de 2021

 

Tenho uma secretária vermelha e canina onde me sento a escrever os poemas sentidos. As secretárias vermelhas e caninas são como todas as secretárias vermelhas e caninas fendem o fundo e fundam. E eu escrevo tudo sobre ela e embalo, e tal como acontece em todas as secretárias vermelhas e caninas, pedala-se muito melhor sem selim.

ldr




 

O enxofre amargo ensina às letras o soterrar impercetível. Acaroa-se. Imagina-se e lambe-se toda a explosão que detém o sémen acorrentado, mudo no interior do corpo que se masturba a cada debruço que respira e grulha. O prepúcio que a boca suga, as águas lambem e pela negra engolem tudo na revolta doada da língua em chama lenta, o repetir dos planos em rodapé. Ele geme. E sobre os lábios a pauta escarlate aquece a pele dos veios que se refalsam de entre a intensa chuva que sai tateando todo o dorso anima. A palavra húmida no desejo projeta-se, a terra, aquessa acende a necessidade estendida. Renascem lodos. O sexo desaperto o sangue. Desintegra-se a braguilha, a imagem ergue o pénis que repousa à sombra soerga. O escorregar alarga o corredor e da boca onde o sal anda sobre os gemidos, sugam-se paridas que um céu contrabandeia de entre o precipício recortado do lábio ancorado ao porto que tropeça nos enormes pentelhos.


ldr

 A escrita inflama intensa pelos corredores da prosa. O fel em brasa com a boca que se transmuta em força a meio do escuro. A causa. Dissipar sangue com destruição e vocalizar as formas iniciais da atmosfera que representam a polémica e a desordem que segura a parede. Uma mancha ensanguentada articula-se até à roupa e pelo salto olha-me, atenta, pra naturalmente corresponder a todos os hábitos sexuais presos entre as costuras e o ferro. Aguardam-me apetites, a brutalidade que só a um corpo numeroso pertencem. Sobre a mesa os papeis à polpa dos dedos começam a deformar-se. Despindo-se, comendo as coisas todas acesas. A carga erótica, a caligrafia erguida sobre a testa, a escrita contínua demasiado e larga. Um documento na sua originalidade, a sacralização, a passagem, fixa, preta. Feito e dito, a cavidade molhando-me. Pele e medo. A recitação. A cinza forte e curvada numa poça. Tocar-lhe.

Valerá a pena continuar?
ldr
*autorretrato, ensaio, Amata,
Casa da Mata, 2021 Fortios



segunda-feira, 15 de março de 2021

 


O chão da cozinha é a pátria dos meus dias de jejum devido à precária intenção que a cabeça guarda. Só penso em escrever merdas e uma merda é uma merda é uma merda. Há anos que não sentia esta merda tão junta e absoluta e quando se mete na mão na escrita é tempo de morrer e a morte tem estado sempre junto a mim entre o corpo que me separa, e quando ela abre a boca as pessoas à minha volta esbarram ao acaso e assim a medo eu vou perguntando os vossos nomes e perante isto, e agora, vêm vocês ler-me em descoberta. Porque é que escreves merdas? Para sair agora e de repente e correr até conseguir boiar e ficar fora de qualquer alcance afinal os olhos de quem nos lê são narizes que andam e sua ordem é interior e em terramoto e dão socos e murros capazes de matar a lepra e eu sou a porra que lhes bate nas costas e que os fareja como um animal e lhes suja o chão e as toalhas, sempre em volta e vós olham para os maus, digo, meus textos na procura de artes e letras e nada em cima da água. E és um dejeto, dizem-me gloriosos e isto acontece porque a morte e a merda também lhes esta na carne e na cabeça à foz dos braços e à boca do corpo. Porque somos todos filhos do mesmo inferno e por arrasto e pela urina, somos todos assassinos de livros de textos e de poetas cujo sepulcro acontece.

ldr
*ensaio ,autorretrato, Amata,
Març. 2021, Fortios, Casa da Mata.

  A avenida principal deveria estar em silêncio. Os dias não se dão. Fremem. No local de trabalho pedem-me cresça mais depressa a interior da blusa e se puder arranje uma mais larga é que o mundo entrou em colapso e eu que sempre tive pavor lacónico ao porta-bagagem e às batalhas disciplinadas e também não sei nadar, recebi a noticia, a partir de agora terei de ser mais acumulada e colocar menos barbatanas à entrada, e se o desespero começar a imiscuir-se desfocado, é colocar-lhe um gargalo e deixa-lo florir, já que todos necessitamos de nos salvar e a distância é um quase abandono seguro. E manter o corpo desdobrável dito ainda no papel afixado na porta, sem humidade em todos os degraus e com luz certa em todas as atenções e tudo sem ser misturado sobre a cabeça.


ldr

*ensaio, autorretrato, Amata,
Março, 2021, Casa da Mata,
Fortios, 

quinta-feira, 11 de março de 2021

 

   Eu, o teu assento, aquele que te mutila as mãos sobre o sexo. A feição peluda que a morte anula entre as costuras. A língua correspondente, a pele e o que se mistura por debaixo da força, aquele céu cor de fogo que grita sob a testa. Um cheio forte carregado de setenta centímetros ultrapassando os cinco da minha prova. E lá vens tu, aceso, coberto de baques importantes, e pões lá a mão, e encontras atento às tuas fúrias, um lugar que se parece com uma atmosfera, com pernas e cuja presença, apesar da tua dureza, diz de mim para mim; pensei nessa tua pressa, um mundo, e não sei onde mais irei esconder essa tua pele a direito e sem rugas.




segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 


Eu falo. E o meu falo é maiúsculo. Desordeiro. E está sempre nu da cintura para baixo. Aguentar, porque estou só e porque é avermelhado e é de carne. E insisto na erupção.
O braço narra sem custos. A cor profunda nos buracos. O fósforo. O aroma da terra torrada, deserta, pronta a encher. 
Do poema saí-me o útero. A boca bem aberta. Dois buracos sem nome e na mistura de ambos, estica-se o passageiro em espera.
Da obscenidade ao realismo, apertar. É achar-me, sentir.


 Eu falo. E o meu falo é maiúsculo. Desordeiro. E está sempre nu da cintura para baixo. Aguentar, porque estou só e porque é avermelhado e é de carne. E insisto na erupção. O braço narra sem custos. A cor profunda nos buracos. O fósforo. O aroma da terra torrada, deserta, pronta a encher. Do poema saí-me o útero. A boca bem aberta. Dois buracos sem nome e na mistura de ambos, estica-se o passageiro em espera. Da obscenidade ao realismo, apertar. É achar-me, sentir.

domingo, 26 de abril de 2020

Nunca mais apareci num evento público. Fiquei cansada de toda a enfermidade, da ópera ao molde. Da competição e eu nunca fui atleta.
Eu sou mais bicho, feia, má. Pelos de aço. Uivo. E não faço depilação em rebordo do prato.
Eu sou aquele evento literário, aquele género de mistura que não devem jamais voltar a permitir-se.
Escrever é secreto, viuvez. Luto. O longe. Um estrondo que mata à altura do peito.
Eu falo. E o meu falo é maiúsculo. Desordeiro. E está sempre nu da cintura para baixo. Aguentar, porque estou só e porque é avermelhado e é de carne. E insisto na erupção.
O braço narra sem custos. A cor profunda nos buracos. O fósforo. O aroma da terra torrada, deserta, pronta a encher.
Do poema saí-me o útero. A boca bem aberta. Dois buracos sem nome e na mistura de ambos, estica-se o passageiro em espera.
Da obscenidade ao realismo, apertar. É achar-me, sentir.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

VIII

Os meus pensamentos são tantos tão grandes, tão potentes, que começaram a rasgar-me para fora, e eu, já nem consigo alcançar-me, a carne através da saia. A grande fachada, inquieta, pulsante. Aberta, e, ágil. o que faz com que os outros vejam através do que escrevo, a vulva a expandir coisas fortes fartas, e, em lavas transparentes que depois, após lidas, tornam-se ainda maiores. 

ldr

VI

As nádegas de um homem, o sentir alto e em decote evidente, são, sobretudo, pelos, sombras pretensiosas, descalças ambições, e que andam e servem de subida ao centro apontando-nos, o céu. Hirtas, e em delirante, sobre, evidenciam-se e da iluminação acervos, tanta é a vontade, e a deflagração, de entre, o subúrbio, desferem pela via cuja confidência é toda, e, em arqueada, o aparecer, para aumentar-lhe a denuncia e em rasura, dando lugar à fúria, como se o barro de que são construídas, tivesse ampliado, e, abrangesse inteiramente, a ideia contextualizada pela forma, em jubilação universal.
O curvo da perna, nelas encarnam, sob, e a desaparecer e, chamar, furiosamente, a carne em sua maioridade, a continuar, a ser aparição, de entre as coisas mais altas e em pé.


ldr.

domingo, 4 de agosto de 2019

Era meia noite e o sol batia alto




*ensaio na Casa da Mata, Julho 2019, foto, João Raposo.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

A Sétima Marunna em Patallou


foto, José Lorvão, ensaio, A Sétima Marunna em Patallou, Agosto 2017.

#luisademetrioraposo

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

sábado, 24 de fevereiro de 2018

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O sangue selvagem entre os astros em potência. O sexo aberto ao sol, à mão direta corta. É tempo de transformar uma necessidade no imprescindível. A boca interroga a fundo, é urgente meter a língua em aberturas onde se entalam os poemas e permitir escrever, transpor tudo ostentosamente, desorbitando a literatura da merda que nela desenha cicatrizes, decapar a acomodação a fim de permitir pelo meio uma erecção até que a carne foda tudo o que preenche o limiar da decadência.
É tempo de regressar. Ser a tempestade.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018


A velocidade do movimento em explosão destrói a pergunta que tudo em mim esgota, olhos de fêmea, o pulsar, a mente que sente. Ramais maduros.

Na ponta da língua o acido depósito, a soma do carvão no cigarro.  

Nós, múltiplos, excessivas vozes. Eu, o dia que quebra, se formos a noite quando diriges, calada, a balaustrada. A ponta do sangue que a morte anula. A língua correspondente, quer, queria desenvoltura, a pele e o que se mistura ao beber da entrada.

 E tu só pensas, aquela desordem, atirar o sexo pelo seu.

O dentro intolerável. O mesmo lugar em ti, a febre de quem sente tudo e assinala táctil, a pontualidade do ferro.

 A boca de mãos dadas. É natural o que sinto, e o tudo o que sei aflorara em rasto espesso. Senti-a.

 Façamos nós, foder. O sexo de encontra a exterior. Incoctível e avassalador. Mutua posse, o incerta ao, decerto cair, invocar ou talvez não, à pouca gravidade da calçada em absoluta naturalidade, revelando todas as coisas práticas que em hora de conflito e recíproco calor, roçagam fisionomias a extraforte.

O meu fogo não acende cigarro, é detonação. O sol de um mundo sanguinolento que arde, desobedece, contém hostilidade e uma transpiração pesada.

É necessário separar a mulher da escrita, desaparecer sem recurso a qualquer tipo de piedade.

Sangrar. A carne entre a tempestade.  Os relâmpagos colados à testa, uma metade contra a outra.
* "A sétima Maruanna em Patallou", 2017.
photo, José Lorvão.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

A Mulher Vulva


Eu, no ensaio fotográfico, "A sétima Maruanna em Patallou", do fotojornalista, José Lorvão, 2017.
A palavra é sempre e cuja função é repelir em relato aberto, a desordem, o rebentar natural das coisas.
Dentro do corpo o corpo, exposto, húmido e escarlate. O lí­quido abrasador, a passarada.
A respiração entre a caligrafia toda e ela pertence-me antes da chuva nos poros em milhares de amoras. O meu poder, e o poder em todas, a energia da Deosa, a Vulva jamais é o patamar a  roda, a marcha restaurada dos pentelhos aparados. NÃo. O poder de uma mulher, da energia feminina está em dissolver-se sem rasto, está no seu movimento rápido, severo, nos recurvados assentos e, lona. Baixinho contra, incomparável até. Está na ebulição total das coisas que salivam e dilatam e desajustam as pregas na sombra, encorajando-as de súbito ao salto, à pressa retesa do musculo exposto e bater,  ágil e transparente até vomitar novos ofí­dios.
Luí­sa Demétrio
*a photo, Eu, é do Fotojornalista José Lorvão, ensaio fotográfico, "A Sétima Maruana em Patallou", 2017.

sobre*

Um texto escreve-se para fornicar. O vasto mundo, foder uma duas ou três à mais pequena impaciência.
Pentelhos, em cardumes pelos erógenos. A plumagem dos animais argúcia não só ao abismo como suporta toda a boca na fundura da fonte. Entre a marginalidade das clavículas, encaixes, e o adro.
A boca quando bate na ponta, à gaita não se deve prender, muito menos embaraçar porque vitima. Em circunspeção, deitá-la sempre fora e declinada e a concurso, lamber-lhe o bolor que a troneia, e que outros decerto pelo contrário e sem demasiado esforço, fecharão mal presa até ao último milímetro, às escondidas por mão bem segura, e reinar em redor com a calda já moída em monção.
Haja sem risca a língua acostumada, hiperbólica ou então não vale a pena juntar os dois pés ao sexo desobediente, entre buracos aonde repousam repensam oscilantes a fim de bombar dia e noite e cujo dorso bomba alumiando as entranhas entre, a vida e a morte, o fogo que espanca a acetosidade.
O sexo é latino, a glorificação, Deos Foder.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

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  1. Chove. Báton e rouge, a era de o ter saído.
    A sombra original, toda a fisionomia inata dos anfíbios. O homem e um pénis em respiração conjunta. A abundância dificilmente explicável, onde vem bater o sol, colossal. A escultura que permite todos os pormenores gigantescos em abastada exibição quando a boca grande incarna selvagem, via um inchaço trazido que à voz amarga.

  1. A insipidez de viver só e contra as mãos que escrevem. Os outros entre o fogo e o meu sangue, a chacina. Litros de água.
    Amargurada pela insatisfação da ordem. Obrigada. A senhora gorda que aparenta ser calma. Os nomes barulhentos, a desculpa monstruosa e futurista, o hostil patriarcado.
    As mãos na boca ao longo da vida deformaram-me a carne, dilataram-na.
    Sabem, o ventre de uma fêmea é um local sagrado. O grande eclodir na garganta dera-me filhos e a natural ligação ao di
    vino. Tudo o resto mais se parece com um miado, lugares mudos entre a testa raspada, à falta de um único pentelho, uma anomalia de grupo, a vida inteira sob atenção, a compostura amável da água mineral. A cona indecifrável.
    Inevitavelmente, depois disto, eu só imagino frases expletivas, todo o ardor do inferno. O sexo quente em céu nublado, viril e decomposto, colocar fim a todos os ciclos admoestados. Cabelos em redor da vulva que encaracolavam.
    Ser, o animal. Escrever a quatro patas.
    Aumentar também a boca e as costelas contra o pelo entre as linhas fartas das presas, uma segunda mão. Há dentro de mim um novo desejo de destruir. Atar é um só movimento. O sentido inverso, ou um mundo subterrâneo, a ligação à natureza selvagem, Eu alma.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

ADVERTÊNCIA




Cuidai com o que vós leres por aqui, pois não encontrais nada em vosso benefício, somente alguns talheres, textos cansados e por refazer, e eu estou a ficar farta de ser denunciada  pela vossa desmesura que por mim não fora convidada.

É que eu estou a ficar cansada da dissolução e de repetir sempre os mesmo gestos entre o sal.

Estou cansada, a escuridão sempre à escuta de gritos e a meio da paisagem vincada, os vossos olhos oblíquos em desarrumação, a página a descoberto, e em aberto. Queimada.

E cada vez que alcanço o fundo introduzo nele a mão, volumes de água, e por detrás de cada par de calças, dependentemente do órgão desenvolvido ou invulnerável, existe sempre a mesma confusão. A falta de, a boca procurando conter as coisas que acontecem ao encalço da berma. O gotejar monossílabo, a energia, que, quanto mais salgada, mais despeitada fica.

2_ AMÂLA AMMAIA

  1. Nós, múltiplos, excessivas vozes.
    Eu, o dia que quebra, se formos a noite quando diriges calada, a balaustrada. A ponta do sangue que a morte anula.
    A língua, correspondente, quer, queria desenvoltura, a pele e o que se mistura ao beber da entrada. E tu só pensas, aquela desordem, atirar o sexo pelo teu.
    O dentro intolerável. O mesmo lugar em ti, a febre de quem sente tudo e assinala táctil, a pontualidade do ferro.
    As bocas de mãos dadas.

    É natural o que sinto, e o tudo o que sei aflorara em rasto espesso. Senti-a.
    Façamos nós, foder. O sexo de encontra a exterior. Incoctível e avassalador. Mutua posse, o incerta ao, decerto cair, invocar ou talvez não, à pouca gravidade da calçada em absoluta naturalidade, revela todas as coisas práticas que em hora de conflito e recíproco calor, roçagam fisionomias a extraforte.
Merchants of white meat, 1997, by Jan Saudek:

*photo Jan Saudek

in Amâla Ammaia

Há em tudo o que escrevo uma explosão. Há palavras onde é mais acentuada a escuridão, e em todas emanam paragens violentas, tal como sugere a ardência e a fome o exige, e eu só me alimento do que inflama e arde.
E sou eu, é tão evidente. Um texto. A massa brava, abrasa-mo pó, sublimando criaturas, animais, larga em fronte alta. Quatro patas, e as duas, pousadas.
Ah, o prazer liso, um caralho sem rugas, e ambos gostamos de, um tudo-nada, gemer, definir a contorno entre a mão livre e a carne encharcada, onde a baba se propaga, e o selvagem amanhã pelos golpes em abandono. Onde tudo cresce, pouco ou nada comum.


Jan Saudek:

photo Jan Saudek

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Um poema, um gaio, um relâmpago em papada. Um sem abrigo no fluído que ferra, e uiva. É língua em tensão delicada.
E no final? O poema é uma vulva onde nada se queima e tudo arde. A sepultura, era dos húmidos aromas que sempre é excluída à violência da autopsia.

[Celedonio Perellón]; Jan Saudek - 1998 - Catawiki:

*photo Jan Saudek

O menstruar pertence à Lua, ao útero, atmosfera amniótica onde eu boiara, local de aparições onde o escuro e a eminência ressuscitam em lava.
A multidão entre as pernas, um astro, exibição, o protestar.
O sangue ostensivo, numa cama grande de casal expressa; a noite, o efeito grosso. (novo livro a trabalhar)
Lua Cheia é responsabilidade, o factor, ser mulher. E fiel sob a oração, o ventre alma, um lobo. Uivar.Jan Saudek-  Sus fotografías en blanco y negro (las cuales empezó a colorear a mano en 1977) son de un erotismo grotesco e inquietante.:



photo Jan Saudek

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

AMALA AMAIA


                                                                


                                                             AMALA AMAIA
                                                    [puesía pronunciada por um pénis]

Anda-se, anda-se, anda-se e isso faz com que a carne aumente, inche e rebente. E eu e os pensamentos somos tantos e tão grandes que começam a rasgar-me a carne. É isso, não tenho muito mais a dizer. As minhas recordações, inúmeras e tão distantes das páginas que não escrevi e precisavam ver o quanto elas gritam entre o sexo.    Quero ser infinitamente um astro. O sol. Quero esconde-lo primeiro na boca depois entre os seios alcatroando-o até ao ultimo empurrão e penso. Voltar a esconde-lo a meio lodo, entre o que geme nas coxas, fornicar em desespero, fornicar com força e sem ponta de vergonha, fornicar até ao ultimo empurrão em que o esperma explode e pensar, raia estrangulando por continuo, o slip, o corpo após corpo a oferecer guarida à seiva franca, nadando-lhe ao ouvido, na dupla que os dedos  anseiam. O sangue irrequieto e contínuo, imparável por detrás da porta. A rua.                             Pulsar. 
  A carne entre a tempestade em relâmpagos. Colados à testa, uma metade contra a outra. A mão demorada por todo o lado, e entre as cordas vocais a palavra é divina e a disponibilidade sexual é descobrir jóias, virgulas e o ponto final, continuar a esboroar. O peso atormentado. Grave habitual. O tudo em tudo em quantidades e assimetrias onde é mais acentuada a escuridão e em todas as nádegas emanam paragens violentas, subtraindo ao meu ser, tal como sugere a ardência e a fome o exige, e eu só me alimento do que inflama e arde no inferno. Ah, o inferno, ambos gostamos de gemer entre a carne encharcada onde a baba se propaga e escorre, alimento selvagem do amanhã onde tudo cresce, pouco ou nada comum. 
 A inocência está toda no sexo, o sol, a estrela caída que ilumina a realidade em cruéis deslaces, na grácil que a puesía simples descanta. O seio, acre e austero, lapela com vista ao pôr-do-sol. Nuvens a horizonte. 
O caralho, um trovão. O nome, não se diz. Entre as duas a boca dilui. As labaredas, o encarnado em apertadas margaridas.
    Lábios na chiclete. Dúzias de bocas furiosas, grunhidos, guinchos. O ruído que saí pelo nariz. Um naufrágio. A luz atira-me à janela. O sol a morar-lhe entre os pentelhos. A ideia anarquista de fugir para o meio do amarelo. A boca, dos lábios só, nome de raça. A poça por todo o lado agarra-se às mãos em massa.
   O  coração ocupa-me quase na totalidade a carne. O corpo paralelo ao prazer, grande, essência que ergue com precisão elevado em desespero o céu. 
   Eu, um verbo possante a satisfazer junto aos dedos e em poderosa gula. Com fome, a pé. A língua cuja mão, a garra, em massa agressiva. A monstruosidade da água, cenário obsceno. E eu nunca antes tinha visto tanta água a mergulhar-me o polegar. A vulva não é obsessivamente só água. É sobretudo o corpo de uma mulher em busca de existência. E eu sou um instrumento de destruição maciça, tamanho o sexo que lhe sai pela boca.
Ópio. Lábios e ópio. O bicho escreve. O pássaro é de ferro. Mata a sede e sacia a fome. A constante, sobre e sob sexo as mãos tornam todo o inevitável, carne e sangue, o desatino de milhares de milhões afluentes, o pensamento passa à metamorfose. O prepúcio grande e deserto que a palavra despe integralmente, a rendição total do que rebenta à boca do útero e interruptamente, existe, coexiste com a subsistência e todo o ar dos pulmões. Do outro lado, assombra preta que desrata implacável os intermináveis e pormenorizados actos, o respirar do tudo em tudo, quantidades e assimetrias. A fuga que a velocidade destrói. Amalgama, a terra é um septo obediente a par da inteiração, com naturalidade porque o excerto da carne é inteiro. A imensidão, gentileza perigosa, algramassa, cabeça e a testa. Ideia soberba, a mão cheia de imagens e por colinas, o sexo nu, a mossa que fermenta delicadamente, a brusquidão parcelar de copula. 
Lamber nos mamilos e a parte de trás, orifício fronteiro, descarregar fúria, sacudi-la com força, dando caça a tudo o que aparecesse, o recto.

A boca, intimei-a: aumenta, e a mente alarga a corrente, a coisa senis e por mimese bate e  rincha, e a coronal desembesta o reverso atormentado. E vinha, como se fosse só nela. Em empa e em duplo perfil, adulta, a foda, atenta às fúrias porque desde que os ossos das mãos perderam a carne, dispenso luvas, vomito na cama. 

E no final? Nada se queima e tudo arde, a garganta cerca fazendo vénia, e era gorda a sepultura, o uivo, a era dos húmidos aromas que sempre é excluída à violência da autopsia.
   
   O mundo deveria ser a eterna copula, 
resolveríamos todas as distancias e a vivência entre o que se vive no sangue eriçado, se decidíssemos passar somente a foder, em desespero do céu, da boca, fora e dentro, por todo o lado o dia inteiro, e dizer não a um esgoto que jamais será saciado.
   
   O corpo a subir um outro corpo a partir dos pés.  O sexo, a martelada e só um rápido arranca violentas confrontações que contemplam o profundo, e que, me são instintivas por natureza. A normalidade é uma masmorra, sei-o agora. É necessário esquecer o rosário, a aparência, porque o pénis é um mamífero, alimenta-se  duro no escuro, de escrito grosso contra o útero, oculta e diante da boca, beijam-ma. E não é folclore, é luta, é resistência.
  
  Um homem urina em pé contra a parede. Urina contra e de encontra as latrinas provocando um derramamento, a transmissão de tinta e outros pigmentos aonde pertence, e está escondida a grande dimensão em jaula.    As calças de um homem entre a multidão são um rapto, e vai-se lá saber, a coisa está viva. Hirta. E eis por detrás o animal. A captura. Agora, imagina-o, a desempenhar o papel de Deus sobre
o instinto. A lamber na vulva gotículas viscosas feitas à mão. A nadar em novidade e a coberto pelas ondas que marinham a lama que do ventre escorre. A fornicar de entre a tinta implacável que desrata interminável o pássaro em acto. A fornicar entre as axilas o ópio. Alma em fogo, o sangue de poeta, verdejantes campos verdes em chamas. A tormenta e  milhares de milhões de criaturas que me são invisíveis, a biologia em zona calva praguejando em albugínea.                                        
  Um pénis deve cravar-se sempre onde há uma agonia, e enterra-lo e deixa-lo lá a demolir sem ininterrupção, a espancar a romper trilho entre os astros, já que no extremo acha-se o universo e no outro a terra, deve morrer dentro e rezar fora.

Luísa Demétrio Raposo
Fortios, 27 de Setembro 2016.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

A liberdade do foda-se impresso à cortesia de um texto(essa ferramenta) inicia-se sempre tão calmamente. Paz. Depois, vem a opressão em matilha independentemente do que opila a pila, ou do que uma vulva cobiça à fissura da porta. A tormenta atormentada, a gramatica em pose clandestina numa mão bem segura. Então, contagia-se uma única palavra que se repete todas as vezes que calca a pena à terra. E precisam ver o quanto ela grita enquanto a procuramos e a forçamos entre os dois fechos redondos, um cheio indomável, indomável, indomável. E ela, demorada, a, apressar-se, apressar-se, apressar-se, fazendo com que o tudo inche rebente ou dilate.

luísa demétrio raposo

No cardápio, um prato de tripas. Merda. Merda. Nas bermas do escarro há pessoas que perturbam, o nome da raça.
Todos os relógios são horários de merda, horas e horas de merda, reunidos para manter a violência da merda, à qual a existência obriga-me a agarra-la com duas mãos.
O mundo deveria ser a eterna cópula, resolveríamos todas as distancias e a vivência entre o sexo que vive de sangue eriçado, se decidíssemos passar somente a foder, em desespero do céu, da boca, fora e dentro, por todo o lado o dia inteiro, e dizer não a um esgoto que jamais será saciado.


Luísa Demétrio Raposo

quarta-feira, 13 de abril de 2016

álea


A carne a essência elevada que ergue a precisão em desespero do céu. O sexo, o deus paralelo ao prazer, um verbo possante. O corpo após corpo a oferecer guarida ao coito. A seiva franca nada-lhe ao ouvido na dupla que os dedos anseiam. Um pénis, Astro. Quero esconde-lo, primeiro na boca, depois entre os seios, esconde-lo a meio lodo e fornicar em desespero, com força e sem ponta de vergonha, alcatroando-o até ao ultimo empurrão em que a imagem eclode e a sombra cheia enegrece inteiramente os pentelhos desgrenhados.
Luísa Demétrio Raposo
in pássaros de ferro


terça-feira, 12 de abril de 2016

soçobrar

Ela,
a vulva e cujo nome normalmente é interdito, o sexo acontece a todos os instantes constantemente ao gotejar a monstruosidade da água em cenário obsceno. E eu nunca antes tinha visto tanta água a mergulhar nos polegares, e não é obsessivamente só água. É sobretudo um lacre em fuga ao fosso onde o desequilíbrio arde, arde, arde e por vezes ama até sangrar.
Um pénis na abertura é sempre um perigo tamanho o sexo que lhe sai pela boca, a tormenta em milhares de milhões de cr
iaturas que me são invisíveis. A biologia a percorrer as zonas calvas e que voltam a desaparecer e que pragueja em albugíneas entre as virilhas, essas grandes palavras em chamas que sôfrega e salgada, a língua de escrita aperta contra estreito, em gula.


Luísa Demétrio Raposo
in pássaros de ferro



*photo by James Wigger

domingo, 10 de abril de 2016

O avanço inicia-se sempre tão calmamente. A paz. Depois, vem a opressão da quadrilha. Então, infecta-se uma palavra e repete-se todas as vezes que a sombra calca a língua à terra. Precisavas ver o quanto ela gritava entre o sexo. À fissura da porta, o cheio indomável, indomável, indomável. A tua boca, essa cidade. Ele preciso nela. E andar, andar, andar, fazendo com que tudo dilate, inche e rebente.


Luísa Demétrio Raposo...
In pássaros de ferro

pássaros de ferro

A inocência está toda no sexo, o sol, a estrela caída que ilumina a realidade em cruéis deslaces, na grácil que a poesia simples descanta. A vulva, acre e austera, apenas uma janela com vista ao pôr-do-sol. Nuvens a horizonte. O sexo, um trovão. O nome, não se diz. Entre as duas, longas ancas, cuja boca se dilui nas labaredas do longo vestido encarnado, em apertadas margaridas.

Luísa Demétrio Raposo
in pássaros de ferro


sexta-feira, 8 de abril de 2016

"Um pénis deve cravar-se sempre onde há uma agonia, e enterra-lo e deixa-lo lá a demolir sem ininterrupção, a espancar a romper trilho entre os astros, já que no extremo acha-se o universo e no outro a terra, deve morrer dentro e rezar fora."



Luísa Demétrio Raposo








"O clitóris, o astro, um pénis, sinónimo de interminável até mesmo para o próprio sexo. A carne sacerdotisa perpendicular à tempestade incerta e descalça do fogo, ele é o grande xamã, a homenagem à terra, o poema orgânico cujo sangue pulsa e repulsa unificando o ritmo ao cosmo. "

Luísa Demétrio Raposo




quinta-feira, 7 de abril de 2016

O Livro da Papoula


A editora Livros de Ontem tem o prazer de lhe apresentar O livro da Papoula, o sexto livro da autora Luísa Demétrio Raposo.

(…) A papoula é a memória erógena aonde se revela recôndita a intimidade em tudo o que se une além corpo e só é distinguível na exaltação que se sente através de desequilíbrios dispersos onde o meu e teu infinito acontecem, e de onde se erguem internas as carnes libidinosas e as curvas dilatam o sangue vermelho e, crua mente, desatam a visão que pulsa convertendo a vulva em um só clarão… lá aonde o pénis é grande, forte e duro e na estridência indefinível de um rude luar, morre ao exprimir-se bem a meio das pernas e na mais agraz e abrasadora narração, o sémen.(…)

Livros de Ontem tem o prazer de o convidar a participar na publicação desta obra através do seu contributo que, neste caso, funciona como uma pré-compra do livro e lhe dá acesso a ofertas únicas e exclusivas como a inclusão do seu nome impresso nos agradecimentos

Para mais informações e saber como pode  contribuir para a publicação desta obra, no link,
http://ppl.com.pt/pt/livros-de-ontem/livro-da-papoula



NOTA: O livro terá o valor de 10€ durante a campanha de crowdfunding e de 12€ após o fecho da mesma.
Escolha o pacote de recompensas que desejar e descubra todas as ofertas exclusivas que temos para si!

1ª edição limitada a 200 exemplares
Todos os exemplares são numerados e assinados.

*Ao publicar os seus livros através de Crowdpublishing, a Livros de Ontem tem a oportunidade de apostar em novos autores, de arriscar novos conceitos e desafios, de melhorar a qualidade das suas leituras e de remunerar melhor o trabalho dos escritores.
Assim, a Livros de Ontem não faz qualquer lucro directo das suas campanhas de Crowdpublishing. Todos os fundos angariados são destinados à produção dos livros e à melhoria da sustentabilidade da nossa operação.

Obrigado por fazer parte deste processo e nos ajudar a melhorar a publicação de livros em Portugal.

terça-feira, 29 de março de 2016

O sol raia estrangulando por contínuo

O slip,
corpo após corpo a oferecer guarida à seiva franca nadando-lhe ao ouvido na dupla que os dedos anseiam.


Luísa Demétrio Raposo
...
*Passage XXIX - H. R. Giger (1973)

pássaro em acto

O homem urina em pé contra a parede. Urina contra e de encontra as latrinas provocando um derramamento, a transmissão de tinta e outros pigmentos aonde pertence, e está escondida a grande dimensão em jaula.
As calças de um homem entre a multidão são um rapto, e vai-se lá saber, a coisa está viva. Hirta. E eis por detrás o animal. A captura. Agora, imagina-o, a desempenhar o papel de Deus sobre o instinto. A lamber na vulva gotículas viscosas feitas à mão. A nadar em novidad
e e a coberto pelas ondas que marinham a lama que do ventre escorre. A fornicar de entre a tinta implacável que desrata interminável pássaro em acto, o tudo em tudo em quantidades e assimetrias. A fornicar entre as axilas o ópio, verdejantes campos verdes em chamas, a tormenta e milhares de milhões de criaturas que me são invisíveis, a biologia em zona calva praguejando em albugínea.


Luísa Demétrio Raposo


O Livro da Papoula

Venho convidar-vos a todos a colaborarem no apoio à publicação do meu sexto livro, O livro da Papoula. A vossa participação no processo de criação é também uma forma de o adquirirem antecipadamente e a um preço mais atrativo. Há recompensas para todos os tipos de apoio. Mais informações e qualquer esclarecimento em http://ppl.com.pt/pt/livros-de-ontem/livro-da-papoula

quarta-feira, 16 de março de 2016

Os cheiros. Os aromas e eu, a sentir-lhe o olhar, o fulgor a palpar o que órgão quente em calças justas desenha, mergulhando nele o sexo pornógrafo.

Lábios na chiclete. Dúzias de bocas furiosas, grunhidos, guinchos. O ruído que saí pelo nariz. Um naufrágio. A luz atira-me à janela. O sol a morar-me entre os cabelos. A ideia anarquista de fugir para o meio do amarelo. A boca, dos lábios só, nome de raça. A poça por todo o lado às mãos agarra-se em massa. Depois de terminar, paguei a conta, agradeci à empregada. Na rua espera-me ela desperta. Quero esconde-la, desejo-a primeiro na boca, depois entre os seios até ao último empurrão em cenário obsceno. E eu nunca antes tinha visto tanta água para mergulhar os polegares, um rio, e um rio não é obsessivamente só água. É sobretudo o corpo em brusco poema, tamanho o sexo que lhe sai pela boca.


Luísa Demétrio Raposo

terça-feira, 15 de março de 2016

++

O escarlate, ciclone, a viagem. Úvida tempestade. Imaculado astro. A inocência ao sol. Carmíneos lábios em apelo estro, a estrela grácil, que a poesia simples descanta. Atmosfera em brasa. Pulcro espaço que o recôndito dilui à mão sequiosa...


*foto by Billy Kidd

sábado, 12 de março de 2016

cápsule

(...) O homem urina em pé, contra as paredes. Urina contra, e de encontra as latrinas provocando um derramamento e a transmissão de tinta e outros pigmentos aonde pertence, e está escondida a grande dimensão em jaula.
Contra o útero, só um rápido seguro arranca violentas confrontações que contemplam profundamente, e que nos são instintivas por natureza. A normalidade é uma masmorra. Pernas abertas conduzem à libertação, a uma orientação faminta que transformam todo o interio
r ao ser renegado, colocando a vida a interior da carne.
As calças de um homem entre a multidão são um rapto, e vai-se lá saber, a coisa está viva. Hirta matéria. Eis por detrás o animal. A captura. Agora, imagina-o a desempenhar o papel de Deus sobre o instinto. A lamber na vulva gotículas viscosas feitas à mão. A nadar em novidade e a coberto pelas ondas que marinham, a lama que do ventre escorre. Depois. A fornicar entre as mamas, pássaros. Fornicar entre axilas, o ópio, verdejantes campos verdes. (...)



Luísa Demétrio Raposo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A ave é ágil ao florir da poça, a carne engrandece-a. Um impulso, a margem, um amplo abrir, súbita chama. A boca, molhada, a horizonte fecunda, e despenha ao largo a exata adiante e de entre a queimada, ecoa a penumbra em derradeiros clarões que de ramo em ramo saltam e à rua ladram. Aqui nasce frágil. Filha da ira e do quente, e é aqui, nesta passagem ilimitada que sou amplamente generosa. Da entrada à corrente, a coisa simples e por mimese, nela bate, a raiva acocorada a mudez aumenta, porque mudo, rincha, e a coronal, desembesta o sangue reverso à flecha disparado.
A Vulva. Carmíneos lábios. Lúcida tempestade. Cabelo estro. Pródigo afora, semeador sem chão. Atmosfera em abrasa. Ave mansa que o imediato desatina e às juntas ergue. A sensualidade alarde, e declina ao duro em pulcro espaço. A mão sequiosa em estreita adição, denuncia a inocência, e a brutalidade de um sexo onde o coração extravasa, onde não há paz nem morte, há um braço que quero ao que acontece, lá onde entre as ruinas um animal disputa, a revejo robusta, a mais nítida ideia, a explosão a constante e cujo aroma endoidece mais que a convincente nudez. A reciproca imaculada, o apelo que dirige um generoso astro. A inocência está toda no sol, a estrela caída que ilumina a realidade em cruéis deslaces, na grácil que a poesia simples descanta.



Luísa Demétrio Raposo
in O Livro das Sombras

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Para a mulher que se torna proibido escrever sobre e sob sexo as mãos tornam-se todo o inevitável, carne e sangue o desatino de milhares de milhões afluentes. O lamaçal deita-vos ao charco incandescente, à exuberância do escarlate em cena, à cova peregrina, pequeno quarto em toda a oposição culpada. O pensamento passa à metamorfose, o continuar, prepúcio grande e deserto que a palavra despe à aparência ficando entre ela integralmente nua na rendição total do que lhe rebenta à boca do útero.


Luísa Demétrio Raposo,
in O Livro das Sombras


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

expostos às mãos o cio ucha e o fogo relincha

escrevo e de forma predatória e sem atender a permissões ou entregas, sobre o sair prestes a explodir para o despedaçar a encontro da última respiração onde o parapeito me pertence na revolução de um manómetro arregaçado
na forja de milhares de milhões de pulsares que se unem os deuses às curvas que vivem a expressão do astro que endurece a parte engelhada sob o traçado rente aonde sinto um tição e a exaltação é tal como eu carcere entre quadris.





Luísa Demétrio Raposo

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A escrita é língua em estado líquido que pelas páginas, superlativa e poderosamente exibe o sexo indistinto, mas que sente e pensa inquieto como o da gente. Quando pressente o olho assente, amadurece e encurva a leitura para nos foder desalmadamente.


Luísa Demétrio Raposo

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Dizem-me que o que escrevo é intenso, tumultuoso. Se eu conseguisse transcrever por palavras esta coisa que se transforma em escrita, saberiam verdadeiramente o que é uma tempestade.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

in O Livro da Sombra

A morte de escrita é interminável, atmosfera submersa, o lugar onde jaz o corpo e não onde adormece a lápide e as flores ressurgem atentas por cima. Não. Morte é celebração onde o plural é deus e ressuscita aterrado em lava, no assombrar profundo do sexo, a floresta.
A vida escrita, local de aparições e do desaguar onde morrem ingénuos os mitos na esfera, montanha atrás de montanha entre as degelas sobrenaturais, a curta-metragem.
A criação pertence ao morto.
Só, o barulho
e a multidão e as horas ressoam o terror do tempo e é isso que me reduz ao nada.

Luísa Demétrio Raposo

** o livro das sombras

Preciso rever a minha inutilidade no mundo, já que a língua onde escrevo diluiu-me os bocados até à raiz e ao anonimato. É normal, a orfandade não tem lugar nem pátria. Escrever esmaga tudo em função do obsessivo e do insuportável. O fogo, lentamente executa tudo à nossa volta. Resta-nos um corpo à deriva e um forte delírio imerso na sua própria solidão.


Luísa Demétrio Raposo

*in O Livro da Papoila

O sexo é onde se desmoronam os astros e as estrelas sangram de entre a escuridão. É berço do fogo e todas as outras coisas instáveis e secretas.


Luísa Demétrio Raposo

II______________O Livro das Sombras___________________/

Escrevo para poder desaparecer no raiado do negro e líquido da tinta. Escrevo porque me é insuportável a multidão e todas as coisas sem alma e que se assomam de forma extenuante. Escrevo porque as leis do homem não são as do ser, são um cativeiro e a mulher que existe dentro de mim não é domesticável. Eu não pertenço. O verbo pertencer é um animal carnívoro e eu não. Sou comparável ao sangue indomável que percorre selvagem e fermenta as veias e os veios em absoluta liberdade, na mais profunda solidão, na forma mais insuportável de ser, não porque eu o deseje mas porque assim é a germinação e a minha natureza.


Luísa Demétrio Raposo

in O Livro das Sombras

Estou só.
Entre a cortina dos dias e a fábula das horas e das casas, dos campos e dos astros, e eu de mãos ocupadas sinto-me cansada, sinto-me exausta. A respiração ferve na cabeça submersa. O sangue adulto ao largo da gramática. A meio da frase a boca em digestão e sobre a mesa onde escrever de forma violenta consome até à extinção.
Os textos são um veneno, maldade, porque tudo o que se escreve não passa de um deitar fora, e tudo o que se lê são restos de pancadas. Não po
ssuem um único rosto, tão só e apenas a língua solta e que de forma impune em torno dos dedos levando-os ao abismo, a universos dissolvidos que em soberania invadem entre a necrologia ameaçadora da língua em contínua erosão.



Luísa Demétrio Raposo
* O Livro das Sombras

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

* in O Livro da Papoila

Largas as linhas e as esferas ardem, sangram, os pensamentos dentro do que eu sou imitando a agitação que ao cativeiro irrompe.
Eu, a grande paisagem. A lua. Um estado selvagem. Um terramoto libertando-se de tudo o que não é alma.



Luísa Demétrio Raposo

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A fuga não pode ser da escrita um resultado




Tenho a escrita e a escrita é o meu único corpo, um corpo pleno em alacridade, do escarlate ao ruir fundo que humedece e entorna palavras no mundo num recamar de paginas e que sem o saber, é o sepulcro onde no abaçanado eu sou, a rebeldia exposta à assimetria.

Luísa Demétrio Raposo

**foto. Joel-Peter Witkin





sábado, 28 de novembro de 2015

Jardim Separado

As palavras são ópio, o cavalo que consome a foz, a bigorna,
o assédio onde se amolda toda a minha farra, aquela guerreira
que salta das palavras e as oxida na excitação do sexo
numérico.
A minha liberdade é a orgia, a luxuria, a alma e ambas
caçam- me entre os seus ganchos orgásticos e por mais que
eu fuja o orgasmo é o cavaleiro que percorre todos os meus
matos.
A fantasia humana na imersão do erotismo, o desassossego,
a raiz e o ventre: a insónia placenta o meu abandono a toda
a gruta onde me vou fechando, um delírio híbrido onde se
desintegram e atraem os ambos vórtices.
Portas submersas, as carnes gorjeiam, redondas, curvilíneas,
serpenteiam abismos em cada um dos tesões. O som agarra
a flecha pelo ânus, o pénis rijo que quebra o voo e geme
dentro dele corrompendo- se na música que ferve, suando a
procura das bocas que se alimentam dos pedaços de som, a
árvores dos relâmpagos.

Luísa Demétrio Raposo


in O jardim Separado, 2013


foto * Jan Saudek